Muito se fala dentro da zona de conforto. O que vem a ser isso?
Segundo a Wikipedia:
“A zona de conforto é uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Nessa condição a pessoa realiza um determinado número de comportamentos que lhe dá um desempenho constante, porém limitado e com uma sensação de segurança.“
É uma área abstrata na qual as pessoas tendem a ficar presas, onde elas só executam o suficiente para viver da maneira que vivem hoje. Sendo menos abstrato, é quando você para de se colocar em situações difíceis e não mais evolui. Acontece em todas as áreas da vida:
– Nos relacionamentos, quando você se contenta com uma parceira que não gosta só pela comodidade de ter uma namorada e por preguiça de buscar outra
– Na vida profissional, quando se contenta com um emprego medíocre que paga suas contas, mas sem possibilidade de crescimento, tanto pessoal quanto financeiro. (Aliás, essa é uma das maiores críticas daqueles que são contra o concurso-público).
– Na vida pessoal, com alguma habilidade sua, que simplesmente não melhora porque você não está inclinado a dispor de trabalho para desenvolvê-la. Dentre outros.
Veja, o que mantém as pessoas presas à zona de conforto?
Primeiro, uma tendência natural humana do mínimo esforço. Para nossa espécie, sempre foi questão de sobrevivência conseguir realizar todas as atividades gastando o mínimo de energia, pois a caça significava risco de vida. Por isso, as pessoas tendem a buscar estabilidade em tudo.
Em segundo lugar, o desconforto. Sim, quando você está vivendo fora dos limites conhecidos de suas habilidades, tanto de relacionamento, quanto profissional ou pessoal, você sente um desconforto porque a situação não é mais previsível; não se tem mais “controle”. Você vai errar, fazer bobagem, pois é assim que se aprende, mas as pessoas de um modo geral são pouco tolerantes a isso.
Sabendo disso, muitos (eu incluso) procuram sempre viver conscientemente fora da zona de conforto, fora do espaço de controle total pelas suas habilidades. Isso significa mais erros, porém possibilidade de crescimento constante. Entretanto, qual o erro nisso?
O que eu vejo as pessoas fazerem hoje é viver muito fora da zona de conforto. O que isso quer dizer?
Você viver muito além daquilo que consegue gerenciar, imaginando que isso vá acelerar o crescimento. O que realmente acontece é que você passa a viver esgotado mentalmente. Deixe-me ilustrar com exemplos.
Imagine que alguém queira aprender chinês. É mais razoável ir a uma escola de línguas, estudar um ano e depois fazer um intercâmbio para um lugar onde se fala chinês/ outra língua que a pessoa domina, certo? Assim, ela estará em contato direto com a língua, mas ao mesmo tempo, tem uma segurança de que vai conseguir se contactar com as pessoas (por causa da segunda língua).
Ao se fazer o equivalente a viajar para China sem saber nada de Chinês, você estará indo muito além da zona de conforto, até a zona de pânico.
Quando caímos nessa zona (estudada nos princípios de Ray Dalio), a situação não é mais saudável. Não adianta tentar correr uma maratona se você só consegue caminhar vinte 20 min. Nessa zona, o ser humano passa a não mais evoluir e seu psicológico passa a ser afetado, pois há um esgotamento da energia mental.
Eu posso falar disso, pois foi algo pelo que passei, há pouco mais de um ano. Coloquei na cabeça que queria melhorar em várias áreas e comecei a viver todas elas na zona do pânico (sem saber, claro). Sim, todas elas. Resultado? Esgotamento físico e mental. Tive um burn-out.
Hoje, o que eu faço e tem funcionado bem para viver entre a zona de conforto e a zona do pânico?
Uso a regra dos 70%. É uma regra simples: ajuste sempre qualquer atividade de modo que você consiga desempenhá-la num nível de 70% de proeficiência. Como assim?
Tomando como exemplo um exercício físico: organizo o número de repetições de modo que consiga fazê-las com 70% de facilidade. Caso esteja fazendo 100 repetições confortavelmente, aumento para 140, por exemplo, de modo que eu termine a atividade, mas sem facilidade.
O mesmo serve para qualquer área/habilidade em que esteja trabalhando: se já consegue realizar o que realiza com facilidade, reajuste as metas de modo que faça tudo num nível de 70% de “conforto”. Isso faz com que você esteja sempre fora da zona de conforto (e evoluindo), mas também sem alcançar a zona de pânico (e ser prejudicial).
Lembre-se: evoluir é uma necessidade humana. Mas, por sermos humanos, temos limites e faz parte da esperteza conhecer onde estão e ir além deles consistentemente. Você prefere ser um corredor de 100 m ou um maratonista, no que se trata de sucesso em sua vida?
Gostei do texto. É interessante pensar nos diversos contextos onde faz sentido aplicar “a regra dos 70%”.
Pois é, Filipe.
Qualquer contexto que há algum tipo de (auto)mensuração, eu to aplicando.
E curtindo os resultados.
Abraço!
Uma pergunta interessante: Como proceder quando situações onde você não tem escolha te deixam fora da zona de conforto? (um exemplo: uma cadeira da faculdade que você não se adaptou bem)
Uma abordagem seria trabalhar só até as “140 repetições” que você aguenta. Mas se isso não suficiente?
Cara, realmente tem coisa que está fora de controle. Mas, poucas situações na vida vão te colocar forçadamente na zona de pânico. Peguemos o seu exemplo.
Uma cadeira da faculdade, por mais difícil que seja, ou por mais que você não tá sintonizado a ela, foi algo projetado para ser alcançável por uma pessoa mediana. Isso quer dizer que, por definição, é uma atividade que pode te levar para fora da zona de conforto, mas não vai te levar ao pânico. Daí não há muito o que fazer.
Realmente, podemos enfrentar situações em que há um desconforto maior do que aquele que esperamos lidar. Mas, nem tudo é controlável sempre, né? Nem mesmo o quanto queremos sofrer para aprender. C’est la vie :)
Abraço e obrigado pelos comentários!
Que textasso, Paulo você deve ter recebido minha resposta por e-mail, o que eu fiz foi simplesmente entrar desarmado na zona de pânico e ficar nela por uns 2 anos…. kkkk sai dela recentemente ainda bem. Agora vou desbravar o desconhecido por partes kkk!
Fazendo um curso da endeavour Brasil, um dos palestrantes do mesmo falou que sentir um certo desconforto é um bom sinal. Já li e ouvi de vários empreendedores falarem que a vida no mundo dos negócios para quem deseja crescer é repleta de desconfortos. Se sentir desconfortável com uma situação é combustível para se buscar soluções e estas são sempre bem vindas. ;)
Texto muito bom Paulo! Parabéns!