Disciplina não existe no vácuo (Ou: Como lido com o fantasma da preguiça)

Disciplina não existe no vácuo (Ou: Como lido com o fantasma da preguiça)

Como se estimular a realizar tarefas dolorosas no curto prazo, mas que trarão frutos no longo prazo? Disciplina é basicamente isso. Quando decidimos fazer qualquer coisa na vida, seja entrar em forma, aprender outra língua ou poupar dinheiro, um dos primeiros obstáculos que as pessoas relatam é que “não têm disciplina para isso”. Em contrapartida, ao observar pessoas bem sucedidas, sempre surge uma admiração, seguida pela aspiração “gostaria de ter a mesma disciplina”.

Nas últimas semanas, tenho pensado bastante sobre disciplina e como fazer as coisas acontecerem, principalmente porque tenho lidado com preguiça. É, isso que você ouviu, eu também tenho preguiça de botar a roupa e ir para academia, ou acordar mais cedo para escrever. Não existe uma espécie diferente de seres humanos que criam as coisas que gostamos ou realiza feitos que admiramos: todos lidam com males parecidos (alguns buscam meios de contorná-los).

Eu me coloquei a analisar: o que havia de diferente nos períodos mais disciplinados da minha vida?

Fator #1 Energia

Ter disposição para de fato realizar as coisas é essencial para disciplina. Se você não tem energia para sair da cama, nenhuma força de vontade no mundo vai te ajudar. Para simplificar, você pode imaginar energia como a interseção de alimentação, exercícios físicos e saúde hormonal.

1. Alimentação. Simplesmente leia Deep Nutrition. É o melhor livro que encontrei sobre o assunto; explica claramente os problemas com o senso comum atual sobre alimentação, com os milhares de “estudos” errados que só confundem a população e propõe uma forma sana de se alimentar (cujos benefícios comprovei na prática).

2. Exercícios físicos. Não tem mistério: para quem está parado, praticamente qualquer tipo de movimentação com frequência (caminhar, correr, brincar com cachorro no parque, fazer polichinelo na sala de estar) vai melhorar seu bem-estar. Para quem já se movimenta um pouco, adicione atividades que promovem criação de músculos (academia, levantamento de peso, crossfit, etc), pois para além do interesse de “ratos de academia”, proporção de massa magra é um dos melhores indicadores de saúde, bem-estar e envelhecimento tranquilo.

3. Equilíbrio hormonal. Um fator subestimado quando se pensa sobre saúde e bem-estar. Nos últimos anos, tem se descoberto cada vez mais papeis importantes realizados pelo sutil balanço hormonal, embora raramente profissionais de saúde consideram como fator de análise. Uma sugestão simples é, junto a seu médico, olhar o perfil de micronutrientes (vitaminas, sais, etc) no exame de sangue, para garantir que não haja nenhum desbalanço (que são facilmente corrigidos com suplementos vitamínicos específicos).

Fator #2: Plano de Ação

Se você não acredita naquilo que está fazendo, não faz sentido se movimentar. E o melhor jeito de acreditar é ter evidência que suas atividades de hoje estão conectadas a um resultado futuro desejado – para tanto, um plano é essencial. Veja exercícios físicos, por exemplo. Se você não pesquisou uma metodologia decente e não tem contexto sobre o impacto daqueles movimentos, academia se resume a “ir num lugar fechado, levantar um monte de peso diferente e voltar para casa”.

Sem contexto de um plano que traga os resultados que você deseja, a atividade perde o sentido. Sem sentido, é ainda mais difícil se convencer a ir para academia depois de um dia exaustivo ou acordar 1h30 antes do normal para conseguir malhar.

Não me entenda mal; não é uma questão de que você precisa de um plano perfeito para começar. Longe disso, caso contrário você cai na armadilha do extremo oposto: perfeito na teoria mas sem sair do papel. O ponto aqui é que seu plano pode até ser simples, como “15 min esteira + 4 exercícios diferentes por treino, revezando os músculos, durante os primeiros 15 dias para se adaptar”. Todavia, é essencial ter um plano claro.

Fator #3: Feedbacks

Olhando para trás, me questionei como eu mantive uma rotina de alimentação de alto nível, jejuns regulares, boxe 2x, jiu-jitsu e academia 3x por semana?

A realidade era a seguinte:

Comer bem -> Me sentia bem -> Tinha disposição para ir malhar -> Consistência nos exercício moldava meu corpo do jeito que eu queria -> me sentia bem -> Tinha disposição para ir ao jiu-jitsu -> Via progresso nos treinos -> me sentia bem -> tinha disposição para ir malhar…

O resultado positivo de uma atividade me deixava estimulado a investir a disciplina para conseguir avançar em outras frentes. Mesmo olhando só para academia, é muito difícil manter o hábito recorrente sem ver algum tipo de resultado. O que motiva a continuar é observar como você se sente bem quando treina e como finalmente seu plano (Fator #2) está dando resultados – surge um ciclo virtuoso de crescimento.

Assim, sempre que quiser replicar resultados em uma atividade, a pergunta a se fazer é: qual é o ciclo mais curto de plano -> esforço -> resultado que consigo aplicar para começar movendo o sistema?

Mão na massa

Disciplina não se trata de se forçar a fazer uma atividade o tempo todo. Sem dúvida você irá lutar com a preguiça, mas ter energia, um bom plano e aproveitar os feedbacks positivos vai facilitar a vida com o ciclo de crescimento.

Em que atividade você tem “derrapado” e como vai fazer diferente de hoje em diante?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Up Next:

Fazendo Acontecer: A Diferença Entre o Mundo dos Livros e a Vida Real

Fazendo Acontecer: A Diferença Entre o Mundo dos Livros e a Vida Real