O clássico criticismo da loteria é que as pessoas que jogam são aquelas que menos podem perder; que loteria é uma buraco negro de dinheiro, drenando riqueza daqueles que mais precisam. Alguns defensores da loteria, e até mesmo alguns comentários no blog, tentaram defender a compra do bilhete com uma compra racional de fantasia – pagar um real por um dia inteiro de agradáveis antecipações, imaginando a si mesmo como um milionário.
Mas considere exatamente o que isto implica. Significaria que você está ocupando seu valoroso cérebro com uma fantasia cuja probabildade real de acontecer é praticamente zero – uma minúscula linha de possibilidade que você, por si mesmo, não pode fazer nada para acontecer. As bolas da loteria irão decidir seu futuro. A fantasia de riqueza que chega sem esforço – sem consciência, aprendizado, carisma ou mesmo paciência.
O que faz da loteria outro tipo de ralo: um ralo de energia emocional. Ela encoraga pessoas a investir os sonhos delas, esperanças por um futuro melhor, em uma probabilidade infinitesimal. Se não fosse pela loteria, talvez elas iriam fantasiar indo a uma escola técnica, ou abrir seus próprios negócios, ou conseguir uma promoção no trabalho – coisas que eles podem ser capaz de realmente conseguir, esperanças que fariam eles tornarem-se mais fortes. Os cérebros sonhadores poderiam, na vigésima visualização daquela prazerosa fantasia, notar um jeito de realmente alcançá-la. Não é para isso que os sonhos e o cérebro servem? Mas como pode essa caminho limitado pela realidade competir com uma adocicada possibilidade de riqueza instantânea – não depois de uma empresa ir ao IPO, mas na terça-feira?
Sério, por que não podemos apenas dizer que comprar tíquetes de loteria é estúpido? Seres humanos são estúpidos, de tempos em tempos – não deveria ser uma hipótese tão surpreendente.
Não surpreendentemente, o cérebro humano não é capaz de fazer aritmética de ponto flutuante de 64-bit e ele não pode desvalorizar a força emocional de uma agradável antecipação por um fator de 0.00000001 (probabilidade de se ganhar na loteria) sem deixar cair inteiramente a linha da razão. Não supreendentemente, muitas pessoas não percebem que um cálculo número de utilidade esperada deveria se sobrepôr ou substituir os seus instintos financeiros imprecisos, ao invés de tratar o cálculo como um mero argumento a ser medido contra as agradávéis antecipações – um argumento emocionalmente fraco, já que é feito de meros rabiscos no papel, ao invés de visões fabulosas de riqueza.
Isso parece suficiente para explicar a popularidade das loterias. Por que tanta gente se sente impelida a defender essa clássica forma de auto-destruição?
O processo de superar um bias requer (1) primeiro notar o bias, (2) analisar o bias em detalhe, (3) decidir que o bias é ruim, (4) descobrir um jeito de contornar, e então (5) implementar esse jeito. É triste a quantidade de pessoas que chega ao passo dois mas trava no passo 3, o qual deveria ser o mais fácil dos cinco. Biases são limões, não limonadas, e nós não deveríamos tentar fazer limonadas com eles – apenas destruí-los.
Texto Original escrito por Eliezer Yudkowski.
Esse texto é bem conciso e trata de um situação bem real, por isso achei conveniente trazê-lo para vocês. Gostaria de fazer alguns comentários.
Ficou razoavelmente claro como a loteria é danosa por si mesma. Toda nossa imaginação poderia ser usada para um fim mais positivo, como meios criativos de conseguir realmente alcançar o que se deseja; não através de métodos “mágicos” com probabilidades ínfimas.
Um segundo ponto muito interessante é que não adianta nada entrar numa jornada para se tornar um racionalista, um grande conhecedor dos defeitos inerentes da psicologia humana, se você não usa aquilo que aprendeu. As conclusões que você chegar através do pensamento claro e da racionalidade devem ser creditadas como verdade por você, não simplesmente como uma opção.
Um exemplo para facilitar a compreensão: um cientista utilizando um rigoroso método científico descobre, através de vários experimentos, que A mais B é igual C. A partir desse momento, ele deve tratar isso como verdade. Mas, o que a maioria das pessoas faz é usar isso como uma possibilidade: “Ah, eu sei que A + B = C, mas eu escolho acreditar que A + B = D“. Isso não pode existir. Não faz sentido.
Apreciando este texto me surgiu algumas considerações a serem colocadas aqui com vossa permissão:
1:o verdadeiro estrategista não ousa perder uma oportunidade,mesmo q ela seja irrisória.
2:a vitória deve ser rápida,sem delongas
3:o estrategista usa as armas q possui e cria as que precisa
Bom,acreditando nessas premissas e sendo um sortudo q ja ganhou alguns premios considerados de “sorte”,devo dizer q vc ira investir 2,00 e talvez ganhe milhões,so não devemos deslocar todo o nosso foco nisso,mais q faça parte das suas armas,vc nao ficara mais pobre por isso…E além disso vc exercitará a sua ferramenta mestra…a imaginação.
Douglas Melo Consulting
Gostei muito do ponto 3. Ele me lembra uma frase do Hannibal, grande estrategista militar (você vai ouvir falar muito dele aqui ainda):
O ponto 1 não bate muito bem, cara. Não faz sentido gastar energia em todas as possibilidades possíveis. A habilidade central seria saber buscar as oportunidades com melhores chances e para isso é bom saber probabilidade bayesiana e teorias de decisão. Nesse caso da loteria, não faz sentido jogar, pois o dinheiro perdido não vale a pena a probabilidade de ganhar.
Quanto ao ponto 2, eu trocaria “rápida” por “precisa”. Quase nunca as coisas na vida vêm de forma rápida, mas podemos ser mais precisos, para que mesmo que leve mais tempo, nós gastemos o mínimo de esforço possível na tarefa.
Abração