Racionalidade é uma daquelas palavras do nosso dicionário que, de tão comumente mal utilizada, acaba sem um sentido intríseco razoável. Mas, uma vez que estamos na jornada de nos tornarmos bons racionalistas, é necessário definir um denominador comum para esse termo.
De um modo simples, observe esses dois desdobramentos:
1. Racionalidade epistêmica: acreditar e atualizar baseado em evidência, de modo a sistematicamente atualizar a correspondência entre seu mapa e o território. A arte de obter crenças que correspondem à realidade tão próximo quanto possível. Essa correspondência é comumente denominada “verdade” ou “acurácia”, e estamos felizes em chamá-la assim.
2. Racionalidade instrumental: alcançar seus valores. Não necessariamente “seus valores” em um sentido de ser valores egoístas ou não-compartilhados: “seus valores” significa qualquer coisa com que você se importe. A arte de escolher as ações que ‘steer’o futuro em direção aos objetivos rankeados mais altos em sua preferência. No Less Wrong, normalmente nos referimos a isso como “vencer/vitória”.
Escrito originalmente por Eliezer Yudkowsky, publicado no Less Wrong
Essas duas explicações são bem acuradas.
A primeira é algo como uma meta na vida: você montar uma estrutura de pensamento baseada em reais evidências da realidade, de modo que seu mapa mental corresponda o mais próximo possível ao território (mundo). Para isso, é necessário bastante coisa, como conhecer as principais falhas da mente humana, tais como os biases cognitivos e as falácias mais comuns. É preciso também ter conhecimento da lógica aristotélica e de matemática bayesiana.
Parece difícil? E é. Ninguém disse que seria fácil.
Qual a vantagem de estudar a filosofia racionalista, então?
Pode ficar difícil enxergar agora, mas uma vez que comecemos os estudos dos problemas mais comuns, você vai ver como nossas mentes são condicionadas a agirem de modo estranho e que automaticamente atrapalha nosso julgamente e nossa visão da realidade. [Sério, dá vontade de rir]
O que iremos fazer é exatamente aproveitar as décadas de estudos de psicólogos, a respeito desses problemas inerentes à mente humana, para nos treinar, sempre que possível, a não cometer esses falhas. E olhe que são muitas falhas: já há mais de 100 biases mencionados em estudos até hoje.
O segundo significado para racionalidade é bem prático. Por exemplo, se você quer ir ao supermercado fazer compras, mas precisa decidir qual é o local mais perto e em que horário estará mais vazio. Pronto, aí está uma situação em que você irá utilizar seu intelecto de modo a alcançar um objetivo. Para isso, você fará previsões, elaborará modelos, basear-se-á em evidências etc.
Essa abordagem é bem interessante pois fica mais fácil você checar quando cometeu um erro. Por exemplo, você vai no supermercado que supôs estar vazio, mas está lotado. Então, você tem que rever seu modelo de realidade e encontrar a falha. É um processo retroativo.
O que teremos daqui para frente?
Bem, o caminho é longo. Há muita coisa que aprender. Se você quiser começar (e domina inglês), comece a ler as sequências no Less Wrong. Enquanto eu for aprendendo, trarei coisas importantes para discutirmos aqui.
Parabéns, post muito bacana. Extremamente útil.