Dar atenção a suas emoções é algo importante. Ao falar da falsa dicotomia razões x emoções, vimos que:
… suas emoções são informação, sinais de como você se sente a respeito de situações a sua volta. Assim como qualquer outra informação, você pode utilizá-la para tomar melhores decisões.
A racionalidade lhe ajuda a definir o quão válida é sua emoção, se ela é uma reação baseada na realidade. Se seu irmão morto é descoberto vivo, você fica feliz. Se você acorda e percebe que é um sonho, você fica triste.
A única regra a não ser violada: suas reações devem se basear em fatos reais.
Emoções não são proporcionais
Pense na força da emoção que você está sentindo. Nossos mecanismos emocionais não reagem de modo proporcional à situação. Não temos um medidor para nos sentir “100% triste” quando um casal de tios morre e “50% triste” quando apenas um deles morre. Não há proporcionalidade.
Aí você me diz “mas Paulo, eu consigo sentir vários níveis diferentes de tristeza, de felicidade, de tédio… como assim não é proporcional?”
O fato de suas emoções variarem de nível, de um modo bem vago (um pouco triste, bem triste e muito triste, por exemplo), ainda não indica que é proporcional de um modo útil.
Se você quer entender essa ideia de extrair informação de sensações para lhe ajudar a decidir melhor, troque “emoções” por “dor”.
Quando você está levemente machucado, o local dói bem pouco. E, progressivamente, conforme seu machucado é mais sério, sua dor aumenta. Isso é essencial para nos indicar se devemos ir atrás de ajuda para o machucado ou podemos ignorar como algo que vai se curar sozinho.
Você não quer sua dor “falhando” você, ou seja, doendo absurdamente com um corte de papel e doendo pouco com um braço quebrado. Afinal de contas, ela é um sinal importante que serve para guiar decisões.
Do mesmo modo acontece com as emoções, só que estas não são proporcionais (e, portanto, confiáveis) como as dores.
Por exemplo, em um estudo, perguntaram a donas de casa no Canadá quanto elas estariam dispostas a doar para ajudar a salvar 2.000, 20.000 e 200.000 pássaros migratórios de problemas com o derramamento de óleo. A média foi, respectivamente, 80, 78 e 88 dólares. Note como em cada opção o número de pássaros aumenta 10x e praticamente não varia a quantidade a ser doada.
Experimentos similares mostram essa tendência de reagirmos mal a números: as pessoas pagariam apenas um pouco mais para limpar todos os lagos poluídos em um estado do que os lados poluídos de uma parte do estado; ou pagariam apenas 28% a mais para proteger 57 áreas de proteção ambiental do que para proteger apenas uma. Daí em diante.
A insensitividade de escopo
Esse viés cognitivo é o chamado insensitividade de escopo. O centro emocional do cérebro não consegue multiplicar.
Uma das hipóteses é que você imagina um passarinho sofrendo em uma poça de óleo, lutando para levantar voo com as penas pesadas do óleo viscoso, e faz a doação baseado na sensação do sofrimento que aquela imagem despertou. A quantidade vai para o ralo, já que ninguém consegue visualizar 200.000 de qualquer coisa.
E daí, no mundo real, os outros 199.999 passarinhos vão sofrer até o fim já que você confiou a decisão que tinha que tomar para uma parte de seu cérebro que comunica informações imprecisas.
Moral da história: você tem que pensar com a parte do cérebro que processa quantidades na hora de tomar decisões, não apenas com a sensação emocional que é despertada. É preciso corrigir nossa inclinação de agir que surge com a explosão emocional de acordo com a devida escala.
Simplesmente incrível. Esta forma de olhar o relacionamento razão / emoção no guiar da vida foi bem interessante. E muito boa para reflexão.