Os Melhores Livros que Li em 2017

Os Melhores Livros que Li em 2017

Leitura é uma das únicas atividades presentes nos melhores e piores momentos da vida. Por um lado, podemos explorar o conhecimento agregado da humanidade para avançar nossos objetivos: seja uma carreira melhor, desenvolver nossas relações ou descobrir aprender novas habilidades. Por outro, podemos buscar nos livros experiência, consolação e guia para os momentos difíceis.

Há alguns anos, decidi levar minha educação a sério. Educação para vida, não para diplomas ou instituições. Isso significou investigar como viver melhor e crescer como ser humano. Posso afirmar com tranquilidade que as pancadas que levei da vida desde então foram suavizadas por toda sabedoria que pude acessar nos livros.

Sempre queremos ler mais, embora a correria do dia a dia termine atrapalhando. A boa notícia é que os brasileiros estão lendo mais; ainda que o crescimento tenha sido tímido, a tendência é crescente. Como a maioria não tem a oportunidade de ler tanto quanto eu, envio uma lista de recomendações de leitura mensalmente para dar acesso aos melhor do que achei por aí, como sugestão a quem não tem muito tempo de investigar.

Além de recomendar o livro, dou a justificativa do porquê ele é bom e um contexto para que você possa tirar o máximo da leitura. Por isso, esta compilação dos melhores do ano segue o mesmo padrão e não é uma simples lista de 4 nomes. Afinal, você iria extrair menos valor se não entendesse o motivo dos livros serem os melhores.

O Curso do Amor, de Alain de Botton

Quando você descobre um autor excelente, já sabe que vai ler tudo que ele escreve. É um ótimo filtro para decidir o que se ler a seguir. Com Alain de Botton, não foi diferente. Outros livros dele que já li e recomendo são Desejo de Status e As Consolações da Filosofia. Quando descobri que ele decidiu atacar o tema do amor, a decisão foi bem fácil.

Ninguém pode casar ou decidir entrar numa relação de longo prazo sem lê-lo. Tenho dado de presente a torta e a direita. Eu me casei bem cedo e teria contornado várias travas no percurso se tivesse acesso a esse livro antes, simplesmente porque as pessoas não mandam “a real” sobre relacionamentos de longo prazo. Todo mundo repete a narrativa romântica do felizes para sempre.

“O começo recebe uma atenção desproporcional porque não é reconhecido como apenas uma fase entre várias; para o Romântico, contém de forma concentrada tudo significativo sobre amor como um todo. E é por isso que, em tantas histórias de amor, não há simplesmente nada mais para o narrador fazer com o casal depois deles terem triunfado sobre um conjunto de obstáculos iniciais além de entregá-los a um futuro vencido pouco definido – ou matá-los. O que nós tipicamente chamamos de amor é apenas o começo do amor.”

O livro se trata de um romance, observando o desenvolvimento do relacionamento de um casal, em suas várias fases. Do encontro inicial, à paquera, ao namoro, ao casamento, à traição, aos filhos. No decorrer do texto, existem seções destacadas com comentários da situação do ponto de vista do filósofo, com descrições e explicações mais conceituais sobre o momento.

Os questionamentos difíceis também aparecem, nada é colocado para debaixo do tapete.

“[Depois de um desentendimento] … o que realmente agrega intensidade é um novo pensamento que surge sempre que uma tensão vem à tona: como aguentar isso para o resto da vida?

Como um dos melhores filósofos ainda vivos, ele é um mestre em descrever aquelas sensações que nem conseguimos verbalizar e nos ajuda a fazer sentido de tudo isso, no contexto de um relacionamento.

“Crianças [filhos] nos ensinam que amor é, em sua forma mais pura, uma forma de assistência. […] Nós aprendemos também que servir ao outro não é humilhante – bem o contrário, porque nos liberta da responsabilidade exaustiva de satisfazer continuamente nossas próprias naturezas tortas e insaciáveis. Nós aprendemos o alívio e o privilégio de receber algo mais importante pelo qual viver além de nós mesmos”

O romance é lindo, terminei com lágrima nos olhos. Não espere drama, é a pura realidade. Esse tipo de educação emocional “pé-no-chão” é extremamente rara e valorizo muito quando encontro. Outra obra com uma abordagem parecida é Pequenas Delicadezas, da Cheryl Strayed. Estes dois livros combinados foram responsáveis por grande parte do desenvolvimento emocional nos últimos anos.

Discursos, Manual e Fragmentos, de Epíteto

Uma das descobertas mais importantes que fiz nos últimos anos: existe filosofia útil e que nos ajuda a responder a questão de como viver melhor. O intuito original da filosofia é responder as perguntas difíceis e servir de guia.

“Devo te dizer o que a filosofia oferece à humanidade? Conselho. Uma pessoa está encarando a morte, outra é aborrecida pela pobreza, enquanto outra é atormentada pela riqueza… Todos os homens estão esticando as mãos deles para você de todas as direções. Vidas que foram arruinadas, vidas que estão a caminho da ruína estão apelando por alguma ajuda. É para você que eles se viram em busca de esperança e assistência.”

— Sêneca

Em algum momento da história (recente), a disciplina foi corrompida por academicismo e discurso vazio, mas se olharmos para os clássicos, encontramos muitas respostas. Os estóicos, inclusive, são uma escola filosófica dessas. Para os estoicos, a base do nosso sofrimento é o apego ao que não está sob nosso controle e nossas falhas morais (emoções negativas).

Seus maiores expoentes são Sêneca, Marco Aurélio e Epíteto. Já recomendei o Sêneca por aqui, esse ano foi a vez de mergulhar em Epíteto. Nascido em 55 e passou sua juventude como escravo de um romano nobre. Obteve a permissão para estudar e foi treinado sob a tutela de Musonius Rufus, outro estoico de renome da época.

“Nós estamos à mercê de quem tem autoridade sobre as coisas que desejamos ou detestamos. Se você deseja ser livre, então, não deseje ter, ou evitar, aquilo que outras pessoas contra, porque então você deverá servir como escravo delas.”

Dos princípios estóicos, a maior ênfase de Epíteto é em nos ajudar a separar aquilo que está e o que não está sob nosso controle. Nós somos bons (sábios) na medida em que buscamos melhoria e ação correta nas coisas que podemos influenciar (emoções e intenções) e quando mantemos emoções negativas sob controle.

Por ter vivido como escravo, existe uma perspectiva bem “pé-no-chão” sobre o dia a dia e coisas quase-óbvias que deixamos passar. Aliás, essa é uma das riquezas do estoicismo. Seus expoentes viveram vidas completamente diferentes – Epíteto (escravo), Sêneca (homem mais rico de Roma), Marco Aurélio (Imperador-deus). Mesmo em um espectro tão grande de diferenças foi possível encontrar modos de aplicar a filosofia em busca de viver uma vida melhor.

“Não coloque seu propósito em um lugar e espere ver progresso sendo feito em um lugar diferente”.

Para quem nunca teve contato com esse tipo de filosofia, o livro O Obstáculo é o Caminho, do Ryan Holiday (resumo aqui) é a melhor porta de entrada. Quem quiser ir direto para um clássico acessível, Epíteto é excelente (li esta compilação das 3 obras acima)

A Meta, de Eliyahu Goldratt

O livro A Meta em si não é novidade. Com mais de 30 anos, já está no meio da Administração tempo o suficiente para ter entrado como leitura obrigatória de muitas instituições de ensino. Mas ele passa despercebido porque pouca gente coloca a grande ideia da obra em prática. Afinal, como já falamos por aqui, o desafio não é descobrir, mas fazer o conhecimento melhorar sua vida.

Eli Goldratt foi um dos fundadores de uma empresa de Israel que desenvolveu um software para acelerar o agendamento/a organização de ambientes de produção (pense em plantas de indústrias). Depois de projetos de implantação do programa em diversos clientes, Goldratt percebeu que o software raramente atingia o potencial completo, graças a velhos hábitos dos funcionários e gerentes.

A promessa e a entrega da solução eram boas, a barreira se mostrava na forma como as pessoas pensavam sobre o próprio trabalho e sobre como operar uma planta. Frustrado, Goldratt decidiu escrever A Meta, preparando o terreno da Teoria das Restrições:

“Qualquer sistema com um objetivo tem apenas um limite (o gargalo) e se preocupar com qualquer outra coisa é desperdício de recursos.”

É uma ideia simples que se aplica a qualquer área de nossas vidas. Digamos que você esteja em busca de ficar em forma. Embora esteja indo para academia 5x e com uma alimentação baseada, você não enxerga resultados.

O que pode estar acontecendo?

Vários fatores influenciam seu bem-estar físico. Pode ser que o gargalo não esteja nas soluções mais óbvias recomendadas por todo mundo, mas, no caso acima, no sono. Não adianta investir em mais dias de treino ou em cuidar ainda mais da alimentação, se a barreira de crescimento é o sono. Cortar os treinos para 3x por semana e dormir melhor pode trazer mais resultados.

É possível aplicar a mesma lógica a qualquer desafio que você esteja tendo na vida e por isso a leitura é tão transformadora. De relacionamentos a crescimento de negócios, a resposta para seus problemas pode estar em um lugar para onde você não está olhando agora. Dica: o audiolivro é excelente, narrado por diversas vozes como em um teatro (a obra é uma novela). Para quem curte, também tem filme.

Not Caring What Other People Think is a Superpower, por Ed Latimore

Ed é uma figura interessante e traz experiência da interseção de vários mundos. Para começar, ele cresceu no “ghetto”, cercado de crimes e violência, com todas as privações associadas. Conseguiu sair de lá usando o Boxe como veículo, mas teve problemas com álcool e com a lei.

Deu a volta por cima e começou a levar a vida a sério. Hoje, veterano militar, escritor, professor e graduando em física, possui vasta experiência de vida e muita história para contar. E a melhor parte: é transparente sobre seus fracassos e sucessos.

O que me convenceu a olhar o trabalho dele com cuidado foi a transparência com a qual ele contou a história sobre de como perdeu a grande luta (vídeo do nocaute), foi dispensado pelo agente, ficou sem dinheiro para pagar as contas, quase morreu num acidente e conseguiu reassumir a direção da vida. Tudo sem recaídas aos padrões destrutivos que já estragaram a vida dele outrora.

“Autodisciplina para fazer as coisas importantes. Autocontrole para evitar fazer coisas que vão arruinar sua vida.”

Ed Latimore, por sua vez, foi uma descoberta não só pela sua história, mas também pela sua escrita – o livro me deixou surpreso. Em termos estruturais é bem simples e tem uma linguagem acessível (fácil de ler até para quem não está com o inglês afiado), mas o conteúdo é muito rico.

A capacidade de conseguir colocar em palavras de modo eloquente experiências que vivemos mas não conseguimos condensar é o que mais me chama atenção (e o principal motivo por ele ser muito popular no Twitter). Talvez parte disso seja explicado pelo Q.I. de 152.

Sobre mídias sociais

“Mídias sociais são viciantes porque é um dos poucos lugares onde uma pessoa não encara repercussão por indulgência emocional excessiva. Essa é a natureza da internet e da comunicação impessoal. A razão pela qual mídias sociais são viciantes é a mesma pela qual (certos) homens pensam que é ok enviar fotos de pênis para garotas através de apps de paquera. Sem repercussão imediata, a pessoa é livre para saciar em qualquer coisa que seja boa no momento”

Sobre a verdadeira liberdade

“É impossível fazer qualquer coisa que você queira. Para impulsos mais malignos, existem leis. Para seus impulsos benignos, há limitações de tempo e dinheiro. Você não existe sozinho neste mundo, então você terá que entrar em acordo com outros seres humanos neste planeta. O nível desses acordos depende da natureza do relacionamento, mas todos os dias de toda maneira, você encara restrições sobre as “liberdades” que você goza. Então, é ridículo definir liberdade como a habilidade de fazer o que você quiser. Se esse fosse o caso, a maioria de nós nunca seria livre”

Nos últimos anos, tenho encontrado cada vez mais valor em pessoas reais; gente que você poderia encontrar no seu dia a dia, como um porteiro imigrante, o dono do mercado da esquina, seu barbeiro ou um boxeador com história profunda que encontrei na internet. As lições que eles tem a ensinar, de certo modo, carregam mais valor, porque essas pessoas (nós) corremos riscos, estando expostos à consequência de nossos decisões. Como Nassim Taleb fala em seu novo livro Skin in The Game, são pessoas com pele no jogo.

Outra biografia interessante que li nesse perfil é o livro “A Man for All Markets”, que conta a história do professor de matemática que inventou um método de matemática aplicada (ao mundo real) para vencer no BlackJack. A seguir, levou a lógica para o maior cassino do mundo: Wall Street.

Quer mais livros? Seguem alguns.

É sempre impossível recomendar apenas 3 ou 4 livros, então seguem algumas dicas rápidas.

É impossível eu não recomendar As 25 Maiores Crises dos Homens (E Como Superá-las). Se você gosta do Papo de Homem e quer uma pegada útil, focada nas dores masculinas, mas sem cair nos lugares comuns, deve ler aquele livro.

Apesar do título ruim, “Como Adam Smith Pode Mudar Sua Vida” é uma boa introdução a quem não costuma ler sobre o tema. Ainda sobre filosofia, algumas das cartas do livro de filosofia que mais recomendo, Letters from a Stoic, do Sêneca, foram traduzidas e compiladas na obra: Edificar-se para Morte.

Sobre uma das carreiras que mais crescem no mundo, ciência dos dados, recomendo o livro Winning with Data. É uma leitura sobre essa geração de empresas que extraem valor e inteligência dos dados, uma das áreas que explodiu nos últimos anos. O tema me empolgou tanto que resolvi aprender ciência de dados do zero.

Para quem tem uma carreira criativa (escritor, pintor, rapper, etc), o livro “Perennial Seller” do Ryan Holiday é uma guia sobre como transformar suas criações em uma carreira. Seguindo com marketing, focado em negócios, o guia do maior especialista da área, Sean Ellis, já está disponível em português (apesar do nome), Hacking Growth.


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