A Presença da Religião na Formação do Brasil

A  Presença da Religião na Formação do Brasil

“Religião (do latim religare, significando religação com o divino) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais” . De maneira mais simples, segundo o dicionário Aurélio (1993, p. 471), “religião é a crença na existência na força ou forças sobrenaturais; manifestação de tal crença pela doutrina e rituais próprios; devoção”.

Religião é uma das partes mais interessantes de qualquer cultura. Não objetivando entrar no mérito espiritual, quero abrir um bate papo sobre seu aspecto sociológico e sobre o que ela nos releva a respeito de um povo.

No último ano, eu ajudei na organização de um trabalho nesse tema: Sincretismo Religioso no Brasil. Não porque eu fiz parte, mas o trabalho é fascinante: ele caminha pela chegada das principais religiões ao país e como elas foram se moldando e como foram moldadas aos elementos culturais brasileiros. Uma abordagem bem estrategista do tema.

Segue o link para o pdf:

http://estrategistas.com/wp-content/uploads/2013/06/Sincretismo-religioso-no-Brasil-Josenilda-Ribeiro.pdf

Alguns Comentários

Para Durkheim, a religião possui características que a permite criar regras de comportamento e normas que visem gerar a harmonia entre os homens. Assim, é por meio da religião que as sociedades se estruturam e se organizam formando uma imagem de si mesmas. “O ritual pode ser considerado um mecanismo para reforçar a integração social. Durkheim conclui que a função substancial da religião é a criação, o reforço e manutenção da solidariedade social. Enquanto persistir a sociedade, persistirá a religião”.

Já Karl Marx, outro clássico da sociologia, considera a religião como um mecanismo de alienação, como o ópio do povo. O homem constrói e se apropria dessas crenças, pois precisa acreditar em algo que possa suprir suas necessidades que o mundo não consegue, funcionando assim como o ópio do povo. Como em toda a teoria marxista, parte-se do pressuposto que a classe dominante controle a ideologia dominante, sendo responsável também pelo controle da religião, utilizando-a para explorar as classes dominadas.

Para Max Weber, estudar a religião nos ajuda a compreender outras manifestações sociais como a ética, a economia e a política. Em sua obra ‘A ética protestante e o espírito do capitalismo’, Weber procura demonstrar essa relação entre religião e comportamento social, mostrando como houve uma transformação do trabalho a partir da ética protestante.

Três visões completamente diferentes, mas complementares. Eu gosto dessa ideia de que a religião é uma forma de expressão da sociedade sobre si mesma; ela evidencia as crenças e costumes principais de um povo, eu diria. Claro, em termos seculares, se você observar as grandes instituições hoje, as religiões organizadas estão bem próximas do que seria o ópio do povo, então Marx não deixa de também estar certo. Só não diria que as classes dominantes estão controlando a religião para manipular o povo; pelo menos não mais. Como diz o Tyler Durden:

A sociedade não existe como entidade única. Não há ninguém em quem colocar a culpa; é só cegueira guiando cegueira.

Quanto ao ponto de vista de Weber, lembro agora de um ponto na história que corrobora isso. Eu peguei o livro “A Ascença do Dinheiro”, do Nial Ferguson para dar uma olhada há algum tempo. Não cheguei a ler (ainda vou), mas ele menciona como os judeus ficaram tão ricos e ganharam a fama mundial de estarem no poder das grandes empresas: na primeira metade do segundo milênio, a religião deles não impedia o empréstimo com juros, o que os cristãos não podiam fazer por ser considerado usura. Daí, os Judeus europeus emprestavam dinheiro livremente, muitos deles financiando expedições marítimas de sucesso, o que levou ao nascimento de vários impérios (corporativos) judeus.


Outra ideia interessante: religião dos povos oprimidos influenciando a dos opressores. Isso vai para comprovar que a relação das culturas é algo muito mais fluida do que imaginamos e nem sempre segue a direção do poder (opressores->oprimidos). No caso do Brasil, religiões africanas e ameríndias forneceram MUITOS ícones para o catolicismo aqui praticado. Muita coisa mesmo.

Os aborígenes e, mais tarde, os africanos influenciaram bastante, ainda que indiretamente, o catolicismo em si. Adicionaram um nível de superstições e práticas de curandeirismo ao catolicismo popular. Como retratada muito bem Gilberto Freyre, em seu livro Casa Grande e Senzala:

“Abaixo dos santos e acima dos vivos ficavam, na hierarquia patriarcal, os mortos, governando e vigiando o mais possível a vida dos filhos, netos, bisnetos. Em muita casa-grande conservavam-se seus retratos no santuário, entre as imagens dois santos, com direito a mesma luz votiva da lamparina de azeite e às mesmas flores devotas. Também se conservavam às vezes as tranças das senhoras, os cachos dos meninos que morriam anjos. Um culto doméstico dos mortos que lembra os dos antigos gregos e romanos.”

O medo do desconhecido, dos mortos, o respeito com os falecidos, tudo isso foi absorvido de ambas as culturas (indígena e africana). Além disso, a consideração com os “seres” da floresta, espírito protetores dos animais, tipicamente indígena, também foi incorporada pelo povo.


Dentre outras coisas, há o exemplo atual da Igreja Universal do Reino de Deus.

Você sabia que essa igreja foi inventada e fundada por um cara ainda vivo? Eu acho isso impressionante; não faço o tipo religioso,mas como você segue uma religião modelada por alguém vivo e sem sinal algum de ser algum tipo de santo ou enviado pela deidade de seu grupo?

(e potencialmente envolvido em esquemas de desvio de dinheiro, diga-se de passagem)

Enfim, sobre a Igreja Universal – e movimento neopentecostal em si, surgido em meados do século passado- que cresceu para se tornar um verdadeiro império, há uma discussão da origem de sua popularidade. Segundo o trabalho:

Façamos uso de seu exemplo mais representativo: a Igreja Universal do Reino de Deus (IRUD). Segundo REFKALEFSKY, o sucesso da IURD se deve ao profundo conhecimento da religiosidade brasileira pelo seu líder e fundador, Bispo Edir Macedo. Esta religiosidade se caracteriza pela pluralidade de elementos religiosos provenientes de ameríndios, africanos e europeus, e encontra na Umbanda a sua melhor expressão.

A IURD aceita a existência de formas mágicas, mas confere a elas um caráter negativo, oferecendo armas sobrenaturais para combatê-las. É exatamente o confronto direto com as crenças da Umbanda, onde o ponto máximo de seus cultos são as sessões de exorcismos, e esta doutrinação se relaciona diretamente com os espíritos umbandistas.

Todo o trabalho é fascinante. Você deveria checar, é uma leitura rápida, leve e informativa. A abordagem está bem didática.

http://estrategistas.com/wp-content/uploads/2013/06/Sincretismo-religioso-no-Brasil-Josenilda-Ribeiro.pdf

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