Você vai morrer, isso não é mais novidade. Se você fizer uma grande descoberta ou invenção científica, seu nome vai viver por algumas décadas, mas vai desaparecer também dos livros de história.
Não acredita em mim? Então te pergunto: quem foi o inventor do mouse de computador.
Não sabe, certo?
A única maneira de criar um impacto realmente duradouro no mundo é deixar um conjunto de valores adiante. Pessoas morrem, são esquecidas, mas valores vivem para sempre. E eu nem me refiro a coisas simples como “seja uma boa pessoa”, “viva uma vida honesta”, que são claramente importantes, mas não constituem um ideal sólido sobre o qual basear o trabalho de uma vida inteira.
Há pessoas que fundam empresas, como Steve Jobs e o legado da Apple. Outras, fundam organizações, como Bill Gates, que têm trabalhado com filantropia desde que alcançou o posto de homem mais rico do mundo. Todas soluções boas, mas ainda acredito mais em dinastias. A wikipedia traz:
Dinastia (do latim dynastés,ae adaptado do grego dunástés,ou “senhor, soberano”, derivado do verbo dúnamai ‘poder, ter força’) é uma sucessão de soberanos, pertencentes à mesma família, por diversas gerações (ex:dinastia capetiana). Uma dinastia pode também ser chamada “Casa”, a exemplo da Casa d’Áustria.
Em geral, a sucessão do soberano obedece à regra da primogenitura. A partir do primogênito, os demais membros da família do soberano fazem parte da linha sucessão, segundo o grau de parentesco.
Meu primeiro contato com grandes dinastias aconteceu através de um mentor, Sebastian Marshall. Ele gosta bastante de um período da história do Japão denominado Período Sengoku. Nesse período de grande movimentação histórica, guerra civil, traições, tomadas de poder, etc, se destacaram três grandes unificadores do Japão (que está envolvido em uma guerra civil): Oda Nobunaga, Hideyoshi Toyotomi e Tokugawa Ieyasu.
Em outro momento podemos nos aprofundar, mas Toyotomi é uma das figuras mais impressionantes da história: ele saiu de carregador de sandálias até o posto de unificador de todo o Japão. Construiu um Estado forte a sua imagem, entrou para os livros de história em lugares reservados a grandes conquistadores, como Alexandre o Grande. Porém, o problema dele foi a super-expansão; não contente em unificar o Japão, ele quis ir além, declarando guerra à Coréia e China, o que eventualmente levou a sua morte.
Não vou entrar em detalhes das batalhas que se seguiram a isso, mas uma das figuras de destaque na época, Tokugawa Ieyasu assumiu o poder e foi declarado Shogun do Japão. Ele imediatamente entrou em modo de consolidação, criando códigos de lei, alianças, estruturas para colocar o Estado para funcionar, melhorando a qualidade de vida da população… enfim, começou a colocar ordem na casa.
Apenas três anos depois de ter sido eleito Shogun, o homem mais poderoso do Japão, ele se retirou do poder em favor do filho, Hidetada. Atitude como essa foi exatamente o que Toyotomi não teve e foi o que levou a família de Ieyasu reinar por tanto tempo: Tokugawa entendia o poder da consolidação, da criação de valores e de passar eles adiante. Ao se aposentar, ele continuou trabalhando na construção deu m código legal forte, enquanto auxiliava seu filho no poder. 11 anos depois, quando morreu, o poder já havia sido transicionado para as mãos de um governante forte, de modo que o povo não sofreu tanto com a perda.
Resultado? A família dele reinou por mais de 250 anos.
Valores tem poder. Passá-los de modo estruturado por dinastias parece ser o modo ótimo para garantir que as pessoas que herdaram seu poder tenham o conjunto de valores, tanto estruturais quanto pessoais, necessários para continuar seu trabalho.
Na história ocidental, existiram algumas famílias importantíssimas. Os Médici na Itália com um papel essencial durante o Renascimento, os Rothschild na Europa pós-guerra napoleônica, os Rockefeller no Estados Unidos durante o boom do petróleo… enfim, muitos e muitos exemplos. No lado Oriental das coisas, nem consigo contar (e deve ser difícil para caramba rastrear). Estudar o crescimento e a expansão dessas famílias pode trazer lições valorosas sobre como construir um império.
Tendo isso em mente, uma grande parte do esforço de alguém bem sucedido deveria estar sobre criar uma família. Ter filhos e, possivelmente, descendentes para assumir o trabalho criado. Não necessariamente ter um filho e forçar a carga do império inteiro nas costas da criança; não, não, não.
Tenha vários filhos, eduque eles, forneça os elementos necessários para se desenvolvam e sejam felizes. Dentre eles, prepare os que sinalizem interesse em seu trabalho para assumir o controle do legado. Forçar o peso do poder na mão de quem não deseja é uma péssima polítca; a história está cheia de exemplos de famílias que vieram à ruína por brigas internas e falta de herdeiros.
Então, ter uma família, vários filhos e preparar um herdeiro? Uma boa política para viver, através de seu legado, para sempre.
Fala Paulo! Quanto tempo não apareço por aqui hehehe
Gostei muito do texto. Boa argumentação, mas ainda voto pela eternidade através das idéias.
Tudo bem, a maioria não faz idéia quem criou o mouse (equipe da IBM, aí o Jobs viu e abocanhou a idéia), mas não acho que seja o melhor exemplo a dar. Repare que, mesmo dada sua importância e utilidade, o mouse é apenas parte de algo muito maior, que é o computador pessoal. Aí eu te pergunto: é mais fácil lembrar de Santos Dumont ou do maluco que inventou o altímetro?
Não estou dizendo que sua tese está errada, muito pelo contrário. Você demonstrou por fatos e dados que a “eternidade” pode ser conseguida pelas dinastias. Só acho que é menos complicado optar pelas idéias, sem contar a transformação que você causará no planeta. Imagine, por exemplo, que vc amigo Paulo inventa uma cura pra AIDS. Meu Deus!!!
Por ser um administrador já vi milhões de histórias de empresas sólidas que faliram depois que o fundador morreu e a família herdou o controle. Acredito que a quantidade de coisas que têm de ser “equilibradas” pra fórmula da dinastia dar certo é muito grande. A simples criação de filhos já difícil pra caramba! hehehe
Concordo com voce e ressalto, em relação ao ultimo paragrafo que muitas empresas falirem após o fundador morrer pode ser devido ao fato de não ter acontecido o que o Paulo explicou no texto. Talvez o fundador não tenha emitido conhecimento suficiente aos sucessores, deixando assim de perpetuar seu legado através de uma dinastia.
Isso!
Criar os filhos bem e passar os valores adiantes é uma parte crucial.
Mais aí que tá Luís, entendo seu ponto de vista.
Você diz que é melhor focar nas ideias pois elas causarão impacto grande na vida dos outros e, se forem realmente parte de algo maior e mais importante (como o mouse e o computador pessoal), as pessoas lembrarão de você.
Huum… o que eu tento argumentar é que daqui a 1000 anos, quando ninguém mais estiver usando computador pessoal e for tudo embutido no corpo (ou sei lá o quê), ninguém vai lembrar do cara do mouse;o do cara do iphone, ou do cara da Apple.
Daqui a 20 mil anos, quando já tivermos superado esse problema infantil perante a raça humana conhecido como “morte”, ninguém vai lembrar quem curou a AIDS.Morte vai ser apenas um pesadelo descrito em um passado distante, coisa para historiador ler e mãe assustar criança teimosa.
Já se você deixa um conjunto de valores pela frente, seja a fraternidade, ou o estímulo ao empreendedorismo (como o Richard Branson), como a conexão de líderes (como o Pierre Thomé de Souza, sobre quem vou publicar um texto em breve)… há um potencial muito maior de alcançar a eternidade, pois se trata de valores abstratos (mas ao mesmo tempo práticos) que vão durar através de revoluções tecnológicas, sociais… e através dos tempos.
Ou pelo menos isso é o que teorizo como tendo o maior potencial, é meu melhor palpite como racionalista até agora.
>A simples criação de filhos já difícil pra caramba!
Não sei, visse? Eu imagino que sim, mas é mais fácil do que imaginamos. Tenho acompanhado um membro meu da família ser criado(um primo pequeno) e vejo quanto erro absurdo que pais tradicionais e que amam os próprios filhos cometem simplesmente por não conhecer psicologia simples. Sei lá, acho que no fundo, é complicado, mas nem tanto. De todo modo, é por isso que planejo ter váários filhos; pelo menos um dele vai nascer pré-apto, depois de treino intenso, a assumir o legado.
Obrigado por comentar, sempre um bate papo interessante!
Hm… Tokugawa ampliou esplendidamente a ideia já usada pelo Xogunato Ashikaga, que durou uns bons 400 anos (e que tinha uma influência pesada da China, aquela coisa das dinastias né – Han, Quin, Song, etc). Nunca tinha pensado por esse lado, gratidão pelo excelente texto, Paulo!
Tudo bem que eu cheguei 3 anos atrasada… Mas depois de ler o comentário do Luís eu fiquei realmente intrigada sobre o que sobreviveria (a ideia ou a família). Por exemplo, se a gente pegar Sócrates ou Platão, o que sobreviveu deles? O que foi passado para a frente? Certamente, não foi a linhagem / família – a não ser que pensemos nas “escolas filosóficas” e Academias iniciadas por eles enquanto uma espécie de família. De fato, certos discípulos propagaram as ideias, difundiram-nas pelo mundo afora.
Mesmo assim, é difícil apontar uma linhagem “direta”, já que muitos discípulos criaram diferentes escolas, com abordagens distintas etc., e que perduraram pelo tempo (só ver a relação Sócrates, Platão e Aristóteles para ver o salto que cada um dá no campo da Epistemologia).
Então, com esse ponto de vista em mente me ficou a dúvida acerca do que sobreviveu, o que ficou para a “eternidade”: a ideia ou a família?
Abraços!
Oi Ludmila! Que bacana essa discussão. Não importa se o post é antigo, os assuntos aqui não possuem prazo de expirar.
Re: Shogunatos. Meu conhecimento da história do Japão é limitada a esse período – pretendo mergulhar mais a fundo em algum ponto no futuro. Pesquisando rapidamente, vi que os Ashikaga reinaram apenas 54 anos [1][?
Re: Linhagens. O argumento é esse: não conseguiremos viver para sempre, talvez até nem o nome de nossa família consiga. Mas se conseguirmos eternizar valores de modo estruturado, que ao menos as próximas 3 ou 4 gerações possam usar como referência, já considero uma vitória. Afinal de contas, saber que a família Ribeiro existiu daqui a 20 mil anos será algo irrelevante.
De todo jeito, quero continuar esse papo por email, para trocarmos mais ideias sobre o japão. Manda email para paulo arroba estrategistas.com
Abs
[1] http://www.historyfiles.co.uk/KingListsFarEast/JapanDynasties.htm
Primeiramente, gostaria de me desculpar – esqueci de comentar logada no disqus, haha!
Então, vamos lá:
1) Sobre os shogunatos: a gente sabe que a história do Japão é cheia de clãs que se misturam, mudam de nome etc. Até um mesmo período histórico recebe nomes diferentes. Basicamente o shogunato Ashikaga compreendeu o período Nambokucho + Muromachi (ou somente Muromachi mesmo, de 1336 a 1573), pós Era Heian. É só contabilizar os dois no link que você pesquisou.
->> Só que a diferença foi: nunca controlaram o Japão todo.
Enfim, obrigada por deixar seu e-mail para contato. Será muito bom continuar essa conversa por lá.
2) Ah, agora sim pude clarear a mente! Concordo que se você consegue consolidar seus valores e passa-los adiante, aí sim poderemos falar de eternidade.
Abraços.
Olá Paulo
Essa ideia de criar uma dinastia surgiu-me a algum tempo atrás e pesquisando no google vim parar aqui. Assim como você cheguei a essa mesma conclusão e sobre esse contexto aqui discutido, percebo que as ideias e criações costumam ser superadas e seus autores muitas vezes caem no esquecimento, com raras exceções que ocorrem quando as ideias, marcas ou a própria genialidade do autor não são superadas. Sempre lembraremos de Santos Dumont como o inventor do avião e acredito que é uma criação que dificilmente será superada nos próximos anos mas, Steve Jobs ainda será lembrado quando não existir mais a Apple ou Bill Gates quando não mais existir mais a Microsoft? Enfim, são afirmações e questionamentos sem respostas mas servem para refletirmos.
Como esses questionamentos são vagos e não conclusivos quero deixar uma contribuição efetiva sobre a discussão. Percebi que as dinastias são mais fáceis de serem construídas porque contam com a força dos juros compostos, ademais, tendemos a ensinar para os nossos filhos aquilo que aprendemos, logo, se a visão de longo prazo sobre uma dinastia familiar for algo difundido na educação familiar certamente será repassada adiante. Acredito que o problema das dinastias e famílias que sumiram com o tempo, tem relação exata com aspectos relacionados a educação e valores familiares (só ensinamos e passamos adiante aquilo que aprendemos e acreditamos).
Enfim, os juros compostos estão a favor das dinastias então, nem é preciso correr grandes riscos (na verdade nem é recomendado), basta ter paciência, alguns filhos e saber educá-los bem.
algo efeitoO ponto As dinastias por outro lado acabam quando o dinheiro ou a representação da unidade familiar tem fim.
Excelente comentário em relação aos juros compostos!
Fala Paulo.
Cara, eu não acredito que você conseguiu passar tudo que ronda por aí. Perdoe a intromissão, mas em algumas passagens, em outros artigos, você deixa algo nas entrelinhas… por exemplo:
1. Como vê a aplicação de um conceito quase póstumo nos dias de hoje? E se possível, em que tipo cenário uma dinastia poderia levar seu nome aos milênios por vir?
2. Ao passar todo um legado para seu filho, você obviamente já teria estudado e assimilado a história das famílias mais duradouras, como combinaria esses ensinamentos históricos com a sua visão e como foi criar seu próprio império do zero?
3. E última questão: sendo hoje a era da modernidade, atualmente como você iria mais além do próprio conceito de dinastia que está relacionado a uma família de sangue?
Acredito que se você consolidar esse desejo de criar um império através da dinastia, dos tempos, você pode e vai tornar esse conceito mais vivo. Afinal, fico pasmo como as empresas, mesmo as titânicas não se preocupam por isso, e isso até responde a questão travada ali em cima, ideias vs. família; porque por mais que as ideias sejam épicas, que algum ou outro familiar possa perpetuar, nem todos vão estar inclinados a serem criadores ou empreendedores, o que põe por terra novamente a noção de “ideia”.
O que também me lembra de outros marcos, que mesmo não utilizando do poder sanguíneo, ficaram cravados na história: como Buda. Acredito que isso deva dar um norte de como também criar uma “dinastia”, mesmo que não viva através de seu sangue.
Abs.
P.S. Não sei se pode conceder essa regalia, mas acredito que esse assunto e as perguntas dariam pelo menos mais um post para o estrategistas. Seria ótimo ver algo além! :)
Volta e meia estou aqui vendo a lenta evolução desse pensamento…
Bruno eu parei pra ler a Os Rothschild e a Dinastia Guinle… Dois cenários totalmente opostos e foram livrosi muito enriquecedoras
Para acrescentar sobre esse pensamento veja que dificuldade de crescer estamos tendo nos últimos 10 anos (A década perdida) uma dinastia se alinha a questão do crescimento de tal forma que 10 anos são irrelevantes a longo prazo.