Filosofia Vivida: Condensando 500 Livros e 5 Mil Anos em 7 Mantras

Filosofia Vivida: Condensando 500 Livros e 5 Mil Anos em 7 Mantras

Olhando para nossa jornada de buscar uma vida melhor, o esforço que fazemos é em vão se o conhecimento não nos serve no momento de crise. Não conseguimos fazê-los disponível quando mais precisamos, nossa filosofia nos falhou.

Já tratamos de como lidar com as crises com um viés estratégico, mais abstrato, assim como já discutimos meios táticos, bem passo-a-passo, que nos ajudem a atravessar o inferno. Ao olhar de perto como eu lido com meus demônios, seja alguma situação que engatilha raiva, seja uma pontada de inveja que surge, notei que tenho feito uso cada vez mais frequente de mantras.

Alain de Botton, em um de seus famosos TED Talks, discute como os ateus possuem muito a aprender com as religiões. Mais especificamente, sobre como a religião lida com o aprendizado e reforça seus princípios. Rituais recorrentes e elementos físicos (como tais terços e símbolos) são apenas alguns dos muitos artefatos que a humanidade tem usado, antes das religiões globais surgirem, para ajudar a manter em mente o que é importante, especialmente durante momentos difíceis.

Um elemento sempre presente, segundo De Botton, é a repetição. Somos seres limitados, cheios de impulsos e uma natureza difícil de controlar – sem constantes lembretes do que é importante, é fácil se entregar e se perder. Para além do efeito esotérico, vejo mantras como uma forma de tornar nossa filosofia de vida acessível para quando precisarmos.

Com isso em mente, sentei para buscar sintetizar tudo que já aprendi com livros (e com a vida) em mantras que possa usar quando precisar. Algumas surgiram naturalmente, só registrei o que já estava em uso; outras foram criadas. Sete são as passagens (e seus contextos) que busco quando preciso, condensando a jornada de crescimento pessoal até hoje.

Agora, ela também está a sua disposição. Talvez as mesmas frases não vão te servir, mas o que importa aqui é o exercício de ter seu aprendizado de modo acessível para o qual você possa recorrer quando precisar. Recomendo fortemente que você repita o exercício e registre suas próprias frases (se possível, compartilha conosco.)

1. “Como você passa seus dias, é, claro, como você passa sua vida.” – Annie Dillard


Homem na ponte (1912), por Károly Ferencz

Na ânsia de seguir construindo o futuro, é recorrente nos observarmos reféns dele; sacrificando toda a vida presente pelo que está por vir. Esta frase da Annie é ótimo lembrete que no leito de morte você não terá mais a promessa de futuro; você apenas olhará para trás e observará como gastou seus dias. Você estará satisfeito com a resposta?

Note que não é uma desculpa para evitar o sacrifício e o trabalho pesado, justificando a preguiça ou o hedonismo; apenas um lembrete para re-integrar a vivência do presente na sua vida. Minha personalidade é naturalmente inclinada a fazer sacrifícios presentes e buscar planos no futuro, por isto a passagem da Annie sempre vem como um equilíbrio.

O resultado do uso desse conhecimento é usado tanto macro quanto no micro.

Em termos de dia a dia, no micro, sempre que me encontro muito estressado com desafios que eu assumi voluntariamente, lembro-me de abrir um espaço na agenda, fazer algo com minha família ou um amigo que não vejo há tempo.

No macro, já tomei grandes decisões de vida com base nisso. Quando decidi vender minha última empresa, por exemplo, a jornada de 70 – 80h por semana ao longo de meses estava me mudando como pessoa. Eu alternava entre ansiedade quando estava sobrecarregado e tédio quando estava livre. Tinha perdido a capacidade de aproveitar o momento e refleti, como seria olhando para trás, se valeria a pena o sacrifício. Não gostei do que vi, por tanto decidi descontinuar.

Voltarei a empreender, em outros contextos. O problema não é a atividade ou o sacrifício, mas qual impacto está causando naquele momento de sua vida.

Para além de disciplina e do equilíbrio presente-futuro, é possível pensar também em termos de arranjar tempo de fazer o que você gosta. Muitas vezes caímos na armadilha de pensar que a vida precisa estar de certo jeito para que só então possamos começar aquele hobby ou perseguir um interesse latente que sempre nos trouxe fascínio. Encontre jeitos de integrar o que você sempre quis fazer ao seu dia a dia hoje.

Sempre quis aprender um instrumento? Estudar uma nova língua? Que maneiras você pode começar isso hoje, com tão pouco quanto 20 min por dia? Todo mundo tem 20 min. Não importa o quão ocupado seja sua vida, é possível “cavar” 20 min. Permita-se começar hoje a viver um pouco do que você sonha.

2. “Eu não adiciono problemas a meus problemas.” – Paconius Agrippinus, via Epíteto


James Stockdale, recebendo a Medalha de Honra do presidente americano Gerald Ford. Stockdale manteve sua sanidade durante o tempo como prisioneiro de guerra graças à filosofia de Epíteto.

Você vai ter algum tipo de problema ou estresse nos próximos dias. Pensa um pouco. Dado que você tenha um estresse, o que é a pior coisa que pode acontecer? Mais e mais problemas surgirem além do estresse original, certo?

Pois bem, durante a próxima crise, apenas focar em não piorar a situação já vai te ajudar muito a gerenciar o inferno. Sei que na hora é difícil lembrar disso, mas focar em não piorar as coisas tem um poder tremendo, pois tira você do modo passivo (algo aconteceu comigo) e te coloca no modo ativo (vou agir apesar disso, focando em não aumentar o problema). Essa sensação de empoderamento, de estar no controle de alguma maneira, ajuda bastante a navegar a crise.

“Você não tem que fazer disso [o problema] algo importante. Não precisa te incomodar.” – Marco Aurélio

Por outro lado, sempre que você puder ressignificar um problema para suas devidas proporções, é bom que o faça. Como sugere a passagem de Marco Aurélio, não temos que tornar cada incômodo do dia a dia em uma crise. Muitas vezes expandimos os problemas fora de proporção; coisas que, se ignorássemos e absorvêssemos um pouco o incômodo, aquilo iria desaparecer.

Por exemplo, digamos que você pegou um trânsito terrível para chegar ao trabalho, além do seu pneu ter furado. Isso de fato quebra a rotina, adiciona um desgaste desnecessário para uma sequencia de atividades que deveria ocorrer sem problemas. Você tem a escolha de chegar no trabalho p* da vida, de mau humor, e seria “justificado” pela simpatia das pessoas quando você contasse sua história; mas esse é o tipo de situação em que estamos criando uma crise onde não precisaria existir. Absorver o incomodo e tentar seguir com a rotina vai diminuir o impacto negativo que a situação teve em você.

Normalmente não absorvemos o impacto em silêncio, escolhendo falar aos quatro ventos sobre “como seu dia está azarado hoje” porque é bom poder ventilar e comiserar com as situações que acontece com você. Isso é contraprodutivo, porque nos deixa mal acostumado; quando uma crise gigante bater, não vamos ter estrutura para absorver, estaremos condicionados a reclamar e processar a situação de modos não-saudáveis.

Por trás das citações a ideia é a mesma: treinar você a lidar melhor com os problemas. Seja com a disciplina de manter o controle e não piorar as coisas quando a crise bate, seja com a prática de não inflar a importância dos problemas no dia a dia.

3. Cultive o jardim que você pode tocar

Origem: Excelente blog “More to That

Há alguns dias o Papo de Homem decidiu republicar um texto bastante lido aqui no Estrategistas – Como gerenciar o inferno. O texto é um guia tático, de passo a passo, do que você pode fazer durante uma crise pessoal para garantir que você não enlouqueça e consiga passar pela tempestade de um jeito positivo.

Esse é um tema super-rico e prático, com um guia bem focado no dia a dia, tendo potencial de impactar a vida de quem lê no momento. Observando os comentários do texto, sabe o que se vê? Discussão política de direita x esquerda.

Vivemos em uma era de extrema polarização – os motivos pelos quais isso acontece são vastos e nem todos são bem entendidos, mas o efeito é real e sentido por todos. Caso você não preste atenção ativa no que está acontecendo, corre o risco de ser levado pela corrente e se perder no meio do turbilhão.

Como insular a vida dos efeitos negativos da polarização? Pode até ser que a causa (direita ou esquerda) seja algo nobre, com a qual você se importa bastante. Contudo, deixa eu te dar um recado: o mundo é um lugar muito grande e complexo. Muita coisa acontece, especialmente na política, sobre as quais não temos controle e nenhuma influência.

Pode parecer uma luta justa e importante, mas no final das contas, pode ser uma distração também. Quando a gente se preocupa com temas muito grandes e amplos, como quem é o presidente ou como acabar com a fome do mundo, esquecemos de temas pequenos, importantes e reais, sobre como ser mais gentil com seus pais ou estar mais presente na vida de seus amigos passando por dificuldades.

Há um apelo da época em que vivemos para nos envolvermos em temas grandes demais, o que é uma distração gigante do que realmente importa – nossa vida, no dia a dia. O mais difícil é que precisamos nos voltar contra nossa natureza: gostamos de conflitos, gostamos de estar certos, de “destruir” o outro lado, é algo inato, biológico. Mas a que preço? O preço final não é a amizade que você vai queimar ou os sentimentos que você vai ferir com “a verdade”.

O preço que se paga pela polarização é a sua vida. Toda a atenção, o cuidado, e o foco que poderia estar voltado a você, buscando caminhos de crescer como pessoa, como profissional, como esposo, como amigo… toda a energia potencial de transformação na sua vida está canalizada para debates super-atraentes, mas, no final do dia, sem sentido. Sua vida estagna, enquanto você sente um pouquinho de prazer a cada “vitória” em debates.

Outro risco sensível de ser consumido por tais ideias é que elas literalmente se tornam sua realidade. Tudo aquilo que entendemos como mundo é apenas uma versão filtrada, com base em nossas ideias e conceitos. Se mantemos uma ideia em nossa mente, iremos enxergá-la em todo lugar.

Duvida? Olha este vídeo chocante.

Olha lá, eu espero.

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Como se vê, dependendo do que se foca a cada momento, percebemos realidades diferentes. Isso é algo natural – o mundo tem informação demais para seu cérebro processar tudo, por isso ele filtra. E o critério para filtrar é aquilo que você acredita que seja importante para você. Neste sentido, o “segredo” tem um quê de verdade – aquilo em que você acredita se torna realidade. Se você acredita que existem oportunidades em todo canto, você começará a enxergar oportunidades em todo canto; se você acredita que é preciso debater para mostrar o lado certo para as outras pessoas, começará enxergar oportunidade de debate em todo lugar.

Sempre que me pego ficando distraído por estas armadilhas, eu me lembro deste mantra:

“Cultive o jardim que você pode tocar”.

Nada adianta querer mudar o mundo se o mundo a sua volta, sua vida, sua rotina, sua família, seus amigos… está tudo desmoronando. Por mais que parece heroico querer atacar problemas em escala global, o maior impacto sempre será feito à sua volta. Por isso, é essencial focar no jardim em que você pode tocar.

Note que a ideia não é abandonar qualquer aspiração de mudar o mundo. Se existe um problema gigante que você gostaria de atacar, comece com pequenos projetos, locais e concretos, que podem gerar impacto mais rapidamente. Quer curar a fome do mundo? Comece pensando na fome do seu quarteirão – que ONGs você pode ajudar ou iniciar para levar comida as pessoas de rua em seu bairro? Daí em diante.

4. “A melhor vingança é não ser daquele jeito” – Meditações (6.6), Marco Aurélio.


As últimas palavras do imperador Marco Aurélio, por Eugene Delacroix

Hoje elas não são tão populares, mas quem tem mais de 20 anos lembra das Game Station, uma rede de loja em shopping centers. Para se divertir lá, começávamos carregando créditos (com dinheiro) no cartão Game Station e partíamos em busca dos vários jogos disponíveis na loja, que custam diferente quantidades de créditos para jogar.

Imagine que você tenha encontrado um jogo muito ruim e está extremamente fulo da vida. Qual é a atitude mais extrema em relação ao jogo que você pode tomar? Qual seria o maior ato de rebeldia que alguém poderia fazer enquanto está na Game Station? Decidir não jogar. O maior ato de rebeldia é evitar gastar seus créditos em um jogo específico – ou seja, poupar o que lhe há de mais precioso.

Na vida, não é diferente. Se alguém nos trai, por exemplo, ficamos chateados com a injustiça da situação; queremos revidar, fazer a outra pessoa sofrer o gosto do próprio remédio.Será que esta postura faz sentido? Imagine que cada ação que você toma é uma escolha consciente de como gastar seus créditos restantes.

Pode parecer uma boa ideia, pode até te trazer satisfação momentânea fazer a “pessoa pagar pelo que ela fez” **… mas você estará gastando seus “créditos” envolvido com um jogo que você não valoriza. É como se, ao encontrar um jogo que não gostamos, nós decidíssemos ficar, jogar o tempo disponível da pior maneira possível como forma de “punir” quem fez um jogo de que não gostamos.

Exemplo concreto: novamente, quando comecei a dirigir, eu ficava lívido com quem cortava o trânsito lento fazendo fila dupla ou usando o acostamento para avançar no engarrafamento. “Quem eles acham que são, mais especiais que todo mundo, quebrando as regras para passar na frente?”. Ficava torcendo para passar fiscalização na hora e multar tais pessoas.

Hoje, já não me incomoda tanto. Decidi que a melhor forma de protestar contra este tipo de comportamento é não agindo dessa maneira – evitar manifestar as características que nós desaprovamos, ao invés de buscar uma “justiça” universal que dificilmente vem no curto prazo (é provável que as pessoas continuem se safando com este comportamento porque não existe fiscalização em todo lugar).

Assim, quando encontro algo que me incomoda, seja uma pessoa mesquinha demais, alguém que interrompe a fala de outras pessoas, não importa o quão pequeno – busco repetir “a melhor vingança é não ser como eles” e seguir com minha vida.

Um contraponto importante: em certos cenários, a vingança é necessária. Taleb diz:

Vingança não é apenas vingança. É uma intimidação.

Retribuição ajuda a desencorajar futuras ações do mesmo tipo. Se alguém ataca minha família, uma vingança bem executada vai ser importante para desestimular outras pessoas de fazer o mesmo. Por isso, escolha suas batalhas com cuidado. Durante a vida, é provável que + 90% dos casos se encaixa no primeiro cenário – você irá se beneficiar simplesmente não se tornando o que odeia. Contudo, é bom manter em mente que retribuição enérgica pode ser útil.

** No mundo real, isto é muito raro. Encontramos com situações imperfeitas e temos que aprender a conviver com elas. O mais comum nesses cenários é viver de modo amargo por um tempo sendo consumido pela sua revolta e pela “injustiça”, até que com sorte você esquece e supera.)

5. Nunca conte o dinheiro do próximo

Eduard Bendemann – Jeremia seated in the ruins of Jerusalem

Esta frase é tem significado em parte porque chegou na hora certa. Sinto que é algo que meu pai poderia ter me dito, com base no que já me ensinou, mas foi um texto aleatório que deixou esta lição.

O contexto foi o seguinte: um dos melhores jogadores da história do basquete (Stephen Curry) estava ganhando menos do que muitos na liga, sendo apenas o 82º em termos de remuneração. Basicamente, quando o contrato de 4 anos foi assinado, o futuro dele ainda era incerto, vindo de um histórico de contusões – não tinha chegado ao ápice da entrega de resultados. Enquanto que outros jogadores, até aqueles com carreira em declínio, por já terem negociado contratos maiores (sempre longos, 4-5 anos), estavam ganhando mais que o triplo que ele estava ganhando.

Ao ser indagado como sentia em relação a isso, ele respodeu:

“Uma coisa que meu pai sempre disse é que você nunca conta o dinheiro do próximo. [O que importa] É o que você tem e como você toma conta daquilo. Se eu estiver a reclamar de 44 milhões de dólares ao longo de 4 anos, então eu tenho outros problemas na vida [além do dinheiro].

Eu lembro de sentar no hotel […] e assinar aquele contrato… Minha perspectiva foi, ‘Bicho, eu vou ser capaz de tomar conta da minha família com isto. Me sinto abençoado de saber que estarei jogando na NBA por pelo menos 4 anos e ver de onde as coisas se desenvolvem”

Uma passagem simples mas causou muito impacto – até me lembrou de Marco Aurélio: Stephen no topo do mundo e praticando humildade. Sempre que eu sinto inveja, eu trago esse pensamento À mente e busco mudar o foco comparativo para um foco de gratidão. Naturalmente, isso vai além do basquete ou mesmo da carreira profissional. Pensa na vida: o quão maravilhoso é termos a chance de estar aqui, participando desse grande teatro. Esse é o tipo de mentalidade que te deixa mais forte, mais grato e melhora sua experiência existencial.

Por outro lado, não se trata de abrir mão da ambição; é impossível dizer que Stephen Curry é o tipo de pessoa sem vontade de construir grandes feitos ou subir de patamar financeiramente. A grande sacada é usar a gratidão como proteção contra a armadilha de focar demais no que os outros tem, de sentir que o universo “te deve” alguma coisa. Existem momentos em que você vai trabalhar pesado e o resultado não vai vir – não podemos ignorar o papel do acaso em nossas vidas. Para não se entregar ao amargor da inveja, busco focar na oportunidade de participar.

6. “Seja excessivamente exigente com as poucas coisas que realmente importam e ignore o resto” – Oliver Emberton

Charles Reade by Charles Mercier

Um dos maiores ajustes mentais que você pode fazer é sair do Mediocristão para o Extremistão – falo isso de experiência em 1ª pessoa, para nós dois aqui no Estrategistas e muita gente bem sucedida que conheço de perto. Você pode entender isso a fundo no corpo de trabalho do Nassim Taleb, especialmente nos livros Cisne Negro e Antifrágil. Já discutimos mais a fundo esta ideia por aqui, mas o princípio é o seguinte: nossa intuição está condicionada a pensar em termos de equilíbrio. Toda nossa cultura também é construída em torno disso. Pense em dois exemplos completamente diferentes: seu desenvolvimento de carreira e sua nutrição.

Em termos de carreira, os conselhos comuns são entender seus pontos fortes e fracos, focando em melhorar suas deficiências para que você seja um profissional completo. Por outro lado, quando se trata de nutrição, a sugestão é você ingerir o máximo de diversidade alimentar possível, com refeições moderadas, mas constantes, comendo de 3 em 3 horas.
Minha experiência (e de muita gente com resultados extraordinários) sugere o oposto nos dois cenários. Ao invés de correr atrás e corrigir os pontos fracos, duplicar o esforço nas suas fortalezas é que vai te vai mais longe.

Por outro lado, não sou nutricionista, mas tem muita gente inteligente (e uso na prática) fazer o mínimo possível de refeições possível (regimes de jejum intermitente) e com pouca diversidade (dietas Keto, carnívora,etc.). Os dois tópicos são bem polêmicos e não estou sugerindo que a resposta certa seja fazer o oposto do que a sociedade sugere (embora seja o que tem dado muito resultado para mim), mas quero focar nossa obsessão cultural com equilíbrio, com “distribuir” os esforços de maneira “balanceada” entre iniciativas.

O que Taleb vem trazer é que para os sistemas com os quais nos relacionamos no dia a dia, existem apenas alguns pequenos fatores que importam e são responsáveis pela maioria esmagadora dos resultados. Basta lembrar do Princípio de Pareto (ou 80/20), mas manter em mente que quase tudo na vida é assim – Pareto, Extremistão… como você preferir chamar.

Digamos, num relacionamento, na hora de tomar grandes decisões sobre a casa. A expectativa da sociedade é que todas as decisões fossem balanceadas entre ambas as partes: que a decoração de cada ambiente fosse uma “média” dos gostos do casal. O que o Oliver Emberton reforça na passagem inicial é que, no mundo real, as pessoas não se importam igualmente sobre cada ambiente ou mesmo sobre decoração.

Na minha vida o que aconteceu foi que eu me importava quase nada com a decoração, enquanto minha esposa gosta de moldar o ambiente. Contudo, eu me importava sobre ter um escritório na casa e não abria disso. Assim, se você entrar na minha casa, 100% da decoração é responsabilidade da minha esposa, dos adereços aos móveis – mas temos um escritório, o único fator relevante para mim (ela queria priorizar um quarto de hóspedes). O arranjo da minha casa não é equilibrado, ele é extremo.

Não só é importante descobrir o que importa para você para focar naquilo, como também não abrir mão daquilo de jeito nenhum – daí é que vem a primeira parte da citação “demande de maneira irrazoável”. Um bom exemplo disso é o movimento do veganismo: veganos consideram importante levar em conta o sofrimento animal para nutrição e não abrem mão disso de jeito algum. As pessoas conseguem respeitar princípios e se algo é relevante, costumam se acomodar em torno daquilo.

Outro exemplo pessoal: a decisão de vir para São Paulo foi otimizada para o que importava para mim, crescimento, em detrimento ao que é importante culturalmente (estabilidade, comprar casa, etc). Novamente, vá para os extremos. Sempre que estou tomando uma grande decisão na vida, eu me pergunto: o que é importante para mim aqui? Reviso os fatores que seriam importante para a sociedade (normalmente usamos eles para decidir sem nem perceber) e vejo se a lista bate com o que é importante para mim; se não for, reviso toda a decisão sob meu prisma.

7. “Um corpo em forma, a mente calma e uma casa cheia de amor. Essas coisas não podem ser compradas – elas devem ser merecidas.” – Naval Ravikant

Você já viveu uma situação ou período da vida em que parecia estar “tudo certo”, mas ainda assim você não estava feliz? Pode ter sido uma promoção no trabalho, uma viagem dos sonhos, ou uma compra significativa (casa, carro, telefone novo), etc. Você tinha tudo para estar contente com aquela conquista, mas não parecia bom.

Eu já passei por isso. Sabe o que notei que tais situações tinham em comum? Eu tinha alcançado algo significativo (para nossa cultura), mas algum dos 3 pontos acima estava fora de ordem. Por outro lado, já passei por desafios pessoais, mas com aqueles três pilares em ordem, tinha leveza para rir e ser contente sem motivo especial. Esta é a magia da passagem do Naval: encapsula o que tem sido recorrentemente importante na minha vida, a diferença entre a leveza genuína e a sensação de incompletude.

Faça este experimento: revisite momentos de desajuste, nos quais você supostamente deveria estar se sentindo bem, mas não estava. Registre o que estava faltando.

A segunda parte, então, começa: fazer por onde merecer tais conquistas.

  • Não é fácil acordar mais cedo ou ir dormir mais tarde por causa da academia, mas é importante fazer por onde.
  • Relacionamentos não são fáceis, requerem dedicação e que você cresça como pessoa, mas é importante se dedicar.
  • Ter uma mente em paz requer mais dedicação do que as pessoas imaginam: ter bons hábitos, evitar dependência de mídias sociais, meditar, processar seus desafios psicológicos e emocionais… mas é um trabalho que vai valer a pena.

Em todas as esferas, para alcançar paz consigo mesmo, na minha experiência (isso é bem pessoal), não precisar ter todos os aspectos do trecho perfeito – basta estar dedicando energia para cultivá-los.

Quais são seus mantras?

Se você já fez o exercício, posta abaixo os resultado do jeito que você ficar mais confortável. Mantras são a melhor expressão consolidada de várias facetas da vida: suas aspirações regadas por seu conhecimento, vindo de estudos e erros. São capazes de descrever sua vida como se tivéssemos vivido em seus sapatos, de maneira mais precisa do que listando as conquistas tradicionais (empregos, carreiras, etc).

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