3 Testes de Personalidade para Investigar sua Vocação (com base científica)

3 Testes de Personalidade para Investigar sua Vocação (com base científica)

A maioria dos testes de vocação são uma farsa.

Pronto, falei.

Conforme expliquei quando estava investigando estilos de aprendizado, boa parte dos testes vocacionais surgiram de “testes cognitivos” no começo do século passado. Tais testes, por sua vez, eram baseados em um modelo de prova que as Forças Armadas americanas utilizavam para separar os recrutas entre Exército, Marinha e Aeronáutica.

Falo isso para explicar como diferenciar um teste que vai ser útil para você de um inútil, recheado de enrolação e pseudociência.

Por que é importante fazer essa distinção?

Toda e qualquer ferramenta de investigação pessoal, que seja baseada em características humanas universais, é útil para auxiliar em nossa jornada de autoconhecimento. Se não validamos a qualidade da ferramenta com antecedência, teremos informações erradas sobre nós mesmos. Isso levará a más decisões e frustrações no futuro.

Dando seguimento à nossa conversa sobre vocação, hoje sairemos do nível estratégico para o tático: o que você pode fazer agora mesmo para se conhecer melhor.

Testes vocacionais que não são testes vocacionais

No fundo, tudo que aprendi me leva acreditar que não há “uma vocação” pronta, como no sentido religioso. A própria busca e a exploração gera uma mistura entre o que você vai descobrindo sobre si com o que você já sabe para culminar nas atividades que trarão realização para você (pessoal, profissional e financeira).

Mas podemos conversar sobre esse aspecto filosófico (essencial, diga-se de passagem) outro dia. Hoje é dia de uma conversa mais tática.

Tudo que você descobrir sobre si mesmo vai lhe ajudar a entender melhor seu encaixe profissional. Embora não sejam testes vocacionais no sentido tradicional, examinam partes importantes de sua personalidade que são cruciais para entender melhor suas preferências (especialmente se você ainda não as conhece claramente).

Você pode fazer os 3 testes gratuitamente aqui, mas antes, quero discutir um pouco cada um deles.

Teste #1 Conheça seus Valores

Shalom Schwartz é um psicólogo que dedica sua vida a pesquisar o que nos move. Ele possui um corpo de pesquisa extenso, envolvendo muitos tópicos, do comportamento micro (indivíduo) ao macro (sociedades e culturas).

O que nos interessa agora é a Teoria dos Valores Humanos Básicos. Segundo o trabalho de pesquisa de Schwartz, há um conjunto de valores em comum para todos os humanos, independente do lugar de origem ou da cultura. Esses valores foram observados, mesmo que sob diferentes nomes/conceitos, através de culturas de mais de 87 países (até agora). A proposta da teoria é que estes sejam universais.

O que nos traz ao teste. Investigar onde você se situa na escala dos valores é uma excelente forma objetiva de se conhecer melhor. Tais valores são “opostos”, como autonomia e conformidade, segurança e ambição. Dependendo de suas respostas, é possível filtrar caminhos profissionais que melhor se encaixem com aquilo que você valoriza.

Teste #2 Mergulhe em sua Personalidade

O teste de personalidade mais bem aceito no meio científico (devido a suas bases e comprovações estatísticas) é o Big 5, que mede seu posicionamento em torno de 5 eixos: extroversão, estabilidade, agradabilidade, curiosidade e diligência.

Estas características estão presentes em todos nós, em maior ou menor intensidade. Não existe resposta certa ou errada aqui – há apenas características pessoais que exploraremos para tomar melhores decisões profissionais.

Teste #3 Qual é seu Estilo de Trabalho?

Pessoas são diferentes. Duh. Mas elas também são diferentes no ambiente em que são mais produtivas e satisfeitas para trabalhar.

Ao realizar pesquisas sobre o encaixe de funcionários com a cultura de empresas, um conjunto de pesquisadores liderados Charles O’Reilly III terminou criando uma ferramenta útil para os funcionários conhecerem a si mesmos.

A proposta era isolar fatores que pudessem ser medidos para analisar o encaixe funcionário-cultura da empresa, mas o teste pode ser usado por qualquer pessoa para investigar o que elas valorizam num ambiente profissional.

Dica importante para realizar os testes

É essencial que você seja honesto na hora de responder os testes acima. Não confunda quem você gostaria de ser com quem você é hoje. Isso é essencial para podermos criar um plano claro que vai lhe conduzir aonde você quer chegar.

E, novamente: não há resposta certa nem errada. Todas as questões são descritivas, que trarão informações valiosíssimas sobre você mesmo..

Para realizar os testes:

1. Visite o portal Na Prática
2. Escolha o Painel Pessoal
3. Crie uma conta (“Login com o facebook/email/twitter”)
4. Responda as perguntas com calma

Ao terminar cada teste, um PDF com o resumo das suas escalas será gerado, acompanhado de uma descrição breve de cada ponto. Salve em seu computador, pois eles serão muito úteis mais na frente.

O próximo passo é discutirmos como interpretar os resultados obtidos para guiar suas decisões profissionais. Como essa é uma tarefa um pouco mais demorada, iremos criar um material dedicado apenas a isso.

Lá, mostrarei o resultado dos meus testes e como utilizei o que aprendi ali para guiar minhas decisões profissionais. Podemos até pegar alguns resultados da comunidade para discutirmos ao vivo e buscar insights. Claro, se quiser ser avisado dessa bate-papo ao vivo, esteja em nossa lista.

No mais, estou curioso para saber o que você vai encontrar nos testes. Vai lá, faz os testes com calma e volta aqui pra comentar?

E claro, compartilhe com quem você acha que precisa. Esses testes são um excelente começo para quem está perdido.

Abraços,
Até o próximo artigo!

  1. Ah, não conhecia esses testes. Interessante! :)

    Agora, é um assunto delicado essa questão dos testes, porque a maioria se baseiam em constructos[1] equivocados. Se formos falar dos testes psicológicos, por exemplo, mesmo que existam as teorias que abordam determinados conceitos, porém eles são marcos teóricos que sequer podem ser experimentados ou pesquisados corretamente, de modo a gerar resultados fidedignos (só ver esse monte de “teoria do inconsciente” que surge a cada ano). Não adianta formular uma hipótese interessante e atraente se ela não puder ser verificada. Por isso o teste precisa atender ao que chamamos de Validade, que é simplesmente verificar se ele é congruente com a teoria que lhe dá base.

    Além disso, deve existir uma amostra heterogenia e uma base estatística confiável. Ele deve ser válido para circunstâncias específicas de uso, nas quais os dados teóricos ou empíricos possuem uma sustentação para a interpretação dos resultados. Se o teste destina-se à crianças de 6 a 10 anos, então essa amostra deve compreender essa faixa etária, o público-alvo a quem ele se destina. Se forem crianças de uma determinada região, deverá ter uma amostra mais específica ainda. Só que não é isso que acontece…. Existem testes e outros instrumentos que estão sendo aplicados em contextos importantes como o trânsito ou até mesmo em seleções de concurso cuja a amostra não passa de 100 pessoas. 100 pessoas com um instrumento que é aplicado em todo o território brasileiro! Parece mentira…

    Infelizmente, entre o constructo e a nossa capacidade de mensuração, há muita coisa – poderia dizer quase um abismo, sendo que a maioria dos instrumentos ou são demasiadamente limitados a uma pequena e reduzida função ou são incapazes de atender ao que se pretende (sabemos disso por causa dos testes aplicados na área de educação, por exemplo). Por isso, acaba-se por recorrer a outros métodos ou técnicas – o que abre mão para pessoas utilizarem os mais sortidos instrumentos oriundos de teorias bem absurdas.

    [1] – Em psicologia, poderia-se definir os constructos como conceitos de caráter abstrato, que visam observar, conhecer, descrever, determinados eventos psicológicos em determinado contexto. Isso é importante, porque marca a característica mutável dos constructos (características de personalidade se alteram, por exemplo, principalmente diante de acontecimentos impactantes na vida do sujeito).

    Ou seja, seria impossível mensurar o constructo personalidade enquanto algo completamente estático. Portanto, só é possível medir, obter um resultado e interpretá-lo para aquele momento. O resultado de um teste, portanto, nunca é estático e nem deve ser determinante.

    Enfim, desculpe a verborragia :p

    Abraços!

    1. É, compartilhamos as preocupações quanto aos testes, mas esses três passam por esse crivo. Surgiram de variáveis levantadas de corpos de pesquisa extenso e não simplesmente inventadas do nada (como Myer-Briggs).

      Além disso, os testes sobreviveram a extensos testes estatísticos, fazendo com que eles sejam utilidade compravada, ao contrário da leitura fria que é comum nesses cenários.

      1. Ah, que bom saber do fundamento dos testes! Obrigada, Paulo :)

        O f%da é que há esses problemas com a maioria dos testes, além do fato de que se eles se propoem enquanto testes psicológicos ou que avaliam constructos psicológicos. Muitos deles deveriam se enquadrar ao menos nas exigências feitas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) – já que no Brasil esses instrumentos são privativos do profissional psicólogo – mas não o fazem. Há um problema legal nisso [no sentido de legalidade], é um verdadeiro campo de dispustas.

        E o pior que testes como Myer-Briggs além de serem considerados testes psicógicos e favoráveis para uso: http://satepsi.cfp.org.br/imprimeListaTeste.cfm?status=1

  2. Olá, Paulo!

    Fiz os testes e os resultados me incomodaram bastante, pois só confirmaram o que eu já sabia sobre mim.

    Prezo pelo hedonismo e a estimulação, ao mesmo tempo em que tenho autonomia e ambição como pontos fortes em meus valores.

    Sou extrovertido, embora nem sempre agradável, desorganizado, emocionalmente instável e meu único ponto forte (bem forte, por sinal) é a curiosidade.

    Mas o que me preocupou de verdade foi o teste sobre estilo de trabalho. Onde trabalharia alguém que não é ágil, pouco agressivo, que só tem atenção a detalhes que lhe interessam, pouco estimulado por recompensa, que valoriza o processo e não só resultado, que não tem pudor ao tomar riscos e que disparadamente prefere um ambiente informal? Ao menos não faço questão de trabalhar em equipe ou sozinho, então não ligaria de fazer parte do processo sozinho e depois me juntar a uma equipe e vice-versa.

    Eu realmente não sei o que fazer sobre isso. Salto de um emprego ao outro pois não consigo viver muito tempo no mesmo ambiente. Já comecei quase uma dezena de cursos técnicos e os abandonei por não acreditar que fossem me fazer feliz.

    Não tenho como lhe pagar por uma ajuda, mas se seu interesse em ajudar pessoas a se descobrirem como profissionais de sucesso for genuíno, eu realmente apreciaria um e-mail seu para wayne.contato@gmail.com

    Muito obrigado pela matéria.

  3. Oi Paulo, não consegui acessar o site com os testes nos links do seu texto. Eles ainda estão ativos?
    Abraços, Debora

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