Você já esteve numa posição em que precisou selecionar currículos? Eu já estive e não é legal. Erros de digitação, formatação feia e muita bobagem óbvia. Mas um tipo de frase que eu via de novo e de novo me fazia tremer mais do que todos os erros óbvios juntos…
“Eu sou um indivíduo inovador, motivado e apaixonado…”. Suspiro. Sério? O que você inovou? O que você é motivado a fazer? Sobre o que você é apaixonado?
Veja, eu não duvido que muitas dessas pessoas são boa gente. É isto que faz o processo doloroso. Há tanta coisa boa dentro das pessoas, mas se se mantém engarrafado lá então eles não são diferentes do resto do mundo, que é igualmente capaz de se descrever com adjetivos que parecem impressionantes.
Aqui vai o problema: nós acreditamos que nossos processos internos nos definem. Gastar 24 horas por dia, 365 dias por semana em nossa cabeça é um maneira muito boa de conhecermos o quão incrível nos somos.
Mas o que está no lado de dentro só importa na medida que afeta o que está no lado de fora. Outros nos julgam com base no que fazemos, não no que pensamos. E de modo certo: a única razão para contratar alguém que é inovador, motivado e apaixonado é para que eles possam agir de um modo inovador, motivado e apaixonado. Escrever no resumo não faz nada para provar para mim que isso é provável. Como Radolph Emerson disse, “o que você faz fala tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz”.
Então por que as pessoas não fazem coisas? É uma pergunta difícil. Parte disso tem a ver com o sistema educacional. A sociedade nos encoraja para que usemos credenciais oficiais para provarmos qual é nosso valor, ao invés de nosso trabalho. Quer ser contratado como programador? Seus projetos passados não dariam uma melhor mostra de suas habilidades que um diploma? Está esperando ser um jornalista? Um portfólio de sua escrita não provaria melhor seu talento do que uma recomendação de um professor?
Ao invés de culpar o sistema educacional, vamos ao problema central: medo. Ao fazer coisas, somos forçados a encarar a realidade. E isso é assustador. Não risco algum em pensar sobre Platão e se chamar de filósofo. [Ou participar de Startups Weekends e se chamar de empreendedor]. Mas coloque seus pensamentos em um artigo no blog e leia os comentários e veja como seu ego aguenta as pontas.
Essa relutância de encarar a realidade com o nome de proteção ao ego é a barreira mais comum eu que já vi para as pessoas alcançarem coisas. Estar bem na fita se tornou mais importante do que ser bom. Mas quando nós colocamos o medo de lado, é fácil ver que criar e colocar coisas no mundo não apenas nos dá algo para mostrar por nossos processos internos, mas nos permite testar nossas ideias sob estresse e melhorar. Aqueles comentários negativos no blog são seu guia no caminho para o desenvolvimento, não no caminho para depressão.
Nós precisamos aprender a abraçar essa dor. Por sonhar acordado com nossos planos brilhantes que “ainda não tivemos a chance de tocar” e adiar nosso inevitável confronto com a realidade, nós estamos apenas nos machucando. O solo pode ser o que permite que a árvore cresça, mas tudo com o que realmente nos importamos é o fruto. Uma pessoa maravilhosa é apenas uma pessoa regular que faz coisas maravilhosas.
Há milhões de modos pelos quais esse medo pode se manifestar. “Mas eu estou começando um negócio com o qual não me importo para que eu tenha dinheiro o suficiente para fazer o bem para o mundo mais tarde”… “Mas eu estou gastando meses aprendendo sobre exercícios sem ir à academia para que eu possa ser eficiente mais tarde”. Mas, mas, mas, mas, mas. Que se exploda. Pare com isso. Vá fazer coisas com as quais você se importa. Sua vida é sua mensagem.
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Texto original publicado aqui, escrito pelo meu grande amigo Zach Obront. Ele trabalha comigo em alguns projetos, participamos de um mastermind juntos e é uma das pessoas sólidas que tenho o orgulho de conhecer; acho que isso já diz tudo o que você precisa saber. Se souber inglês, vá checar o trabalho dele.
Paulo,
Tens uma indicação de livro que trate da temática medo ?
Um abraço!
Não, Rodrigo, nada sobre medo em si. Gosto de ler biografias porque me mostram como pessoas reais reagiram a situações complicadas, nas quais passaram por medos e dúvidas, se é o que você procura.
Cara, da uma olhada no material da Brené Brown.
https://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability?language=en
Rodrigo Marques, ainda não li, mas o livro Mentes com Medo: da compreensão à superação trata desta temática.
E-book:
http://search.4shared.com/postDownload/y_7MbqK5/mentes_com_medo_ana_beatriz_12.html
Outra sugestão e ver novamente o Batman Begins :P
Boa sorte garoto!
Me perdoe. Fui outro comentário e terminei colocando o link errado. Como não estou sabendo apagar o editar, então resolvi publicar o comentário aqui com o link certo.
Muito bom o artigo. No mais das vezes acreditamos ser super-heróis e continuamos com essa crença sem ter coragem de testá-la para saber se existe algum fio de rezão para tal. Queremos tanto mudar as coisas, crescer, aparecer que somos tragados por insólitas emoções e não sabemos bem como nos portar diante delas. Então, ficamos adiando o confronto com nossos sonhos.
Uma das características mais destacadas de um empreendedor é a vontade de mudar a si mesmo e por meio da sua mudança, mudar outras coisas. Escrevi recentemente sobre o que é ser um empreendedor nesse artigo: Você é empreendedor? Quando puderem, se puderem, passem por lá: http://joubertbarbosa.com/voce-e-empreendedor/ Abraço.