O que aprendi ao escrever um livro em (quase) 15 dias

O que aprendi ao escrever um livro em (quase) 15 dias

No dia 28 de março, eu cometi uma loucura que se tornou uma das maiores lições que tive no ano e algo que vou levar para a vida. Eu me comprometi publicamente a escrever um livro em menos de 40 dias e, ao mesmo tempo, apostei contra mim mesmo. Se eu não concluísse o livro na data, iria distribuir 1000 reais entre os leitores que comentasse no texto.

Ao clicar no botão “Pulicar”, enviei o texto para o Eduardo e, pouco depois, entrei em pânico.

Papo com Eduardo

Para explicar melhor essa história, vamos voltar ao começo.

A Motivação

Aprendizado é algo que sempre esteve muito presente na minha vida. Depois de ler o livro mais recente do Tim Ferris, as peças começaram a encaixar na minha cabeça e mergulhei a fundo no tema. Li vários outros livros, fiz cursos, li dúzias de artigos científicos e comecei a escrever a respeito. Fizemos até um videocast a respeito, que ficou bastante popular.

Ao continuar abordando o tema no site e em outros portais da internet, notei que havia uma demanda grande por um livro no tema. O impacto que poderia causar nas pessoas seria grande, pois há muito mito e pouca divulgação de técnicas que realmente funcionam no aprendizado; e claro, ele faz parte da vida de todas as pessoas, então decidi escrever a respeito.

O problema é que escrever um livro não é algo simples. Já conseguiu imaginar você parando, sentando e escrevendo um danado de um livro? Em primeiro lugar, não temos tempo para isso – na realidade, nunca temos tempo para nada. Depois, ainda tem a barreira psicológica: eu travava completamente só em pensar em escrever um livro, o que torna o trabalho criativo ainda mais complicado.

Depois de várias semanas, vi que o lance não estava andando. Foi então que decidi dar o “mergulho de cabeça”: me obrigar a concluir o que queria. Eu estava acompanhando um amigo e colega de negócios com uma jornada parecida; ele também fez uma aposta pública para o lançamento de seu curso. Eu parei e pensei: bem, isso pode até funcionar.

A Aposta

Já discutimos abertamente por aqui se é melhor você envolver ou não terceiros na busca por suas metas. Contar aos outros ajuda ou não? Nesse caso, eu queria a ajuda do máximo de pessoas possível e ainda ter um incentivo financeiro para não perder aposta. Decidi ir a um valor significante: mil reais.

Como eu não estava trabalhando tanto no mês em questão por conta de outras atividades, não tinha o valor em mãos. Nada melhor do que apostar o que você não tem, certo? Porém, eu estava seguro que conseguiria o dinheiro a tempo para pagar a aposta, já que o nível de trabalho iria voltar ao normal em breve. Então, apostei que iria escrever o livro até o dia 04 de maio e distribuiria a grana entre as pessoas caso não concluísse.

Alguns podem ter perguntado: por que diabos você impôs uma meta tão difícil para si mesmo? Estava ‘procurando sarna para se coçar’?

Eu respondo: você só cresce na vida através de desafios. Não adianta o que sua zona de conforto esteja gritando agora, você só vai saber se é capaz caso se coloque em desafios reais, testes sob fogo. A vida costuma fazer isso conosco sem nem esperarmos: algumas pessoas crescem e encaram o desafio de igual para igual, outras se encolhem e vão perdendo o brilho ao longo do caminho.

O ponto é que você não precisa esperar a vida te jogar na parede para acordar. É possível criar suas próprias metas; é possível escolher para onde você quer crescer e se puxar naquela direção; foi exatamente o que fiz. E, enquanto eu estava fazendo isso, por que não de modo público? Uma das coisas que mais valorizo e acho inspiradora é a transparência. Vai que alguém se inspira e decidi se desafiar também? Nesse cenário, só vi pontos positivos.

[E de fato, alguns leitores se inspiraram, alguns até com desafios parecidos, como no caso do Arlindo. Comenta por lá e ganhe os 100 reais da aposta dele fácil ;-)]

Algo que pedi as pessoas foi que, sempre que possível, me cutucassem(metaforicamente): seja para encorajar ou desencorajar, que eles estivessem em contato comigo. Para mim, um lembrete constante do que precisava ser feito. Para você ter ideia, segue alguns abaixo:

No facebook–

pag 2

No twitter —

 

No email —

No whatsapp —

whatsapp

Sou muito grato a cada um de vocês, por comentar no texto (+40 pessoas!), enviar email, mensagem no facebook, lembrete no twitter, demandar o livro no whatsapp… tudo isso ajudou e fez diferença.

Dificuldades inerentes e encontradas no processo

Não dá para fazer duas coisas ao mesmo tempo, então se eu queria focar nesse objetivo -grande e de curto prazo, eu precisaria pausar todos os projetos em movimento. Então mandei emails para todas as equipes dos projetos que faço parte, esclarecendo a situação e explicando de minha ausência. Afinal de contas, o tempo teria que ser usado de modo inteligente. Sobre o processo em si, no dia a dia, foi complicado acompanhar. Escrever requer muitas coisas, como qualquer trabalho criativo. Então, para produzir bem, eu esperava estar:

  • Bem alimentado
  • Bem dormido
  • Sem distrações
  • Focado
  • Sem interrupções

No começo, eu só me dei ao luxo de produzir quando todas as condições acima estavam satisfeitas. Claro, quando saía, a qualidade era ótima; mas foram poucos os momentos em que todas as estrelas alinharam e eu pude escrever do jeito que queria.

Trabalho numa cafeteria

Nem todo dia a qualidade de vida estava nesse nível.

Some a isso a faculdade demandando atenção como se fosse uma criança mimada, pronto, o cenário estava formado. Quando percebi, só me restavam duas semanas. O pânico leve se instalou: se todo mundo achava escrever um livro em 40 dias loucura e agora que só tenho 15, será que consigo mesmo? Ao mesmo tempo, eu fui obrigado a produzir “contra vontade”, quando não tinha inspiração e quando nem todas as condições acima eram satisfeitas. Aí nasceu a sensação de “luta”, a dificuldade.

Por que eu não desisti?

É uma sensação difícil de descrever. Se você pratica exercício físico, sabe o que estou falando: no final das últimas repetições, vem aquela vontade enorme de largar o peso de lado e simplesmente cessar aquela sensação de batalha. Algo como se você estivesse indo contra a correnteza e tivesse alguma coisa gritando lá dentro para você parar. Se você trabalha na frente de um PC com internet, a todo tempo fica à mercê do impulso de abrir uma distração: “mas seria tão bom se eu parasse com isso, parasse de escrever e simplesmente abrisse o facebook para conversar qualquer merda, qualquer coisa menos isso, vai, pára”.

E a mente continuava. E a autocrítica crescia “isso tá ruim, não é isso que você imaginou, larga logo”. Algumas vezes eu cedia, outras não, mas o esforço consciente em direção ao objetivo continuava. Por que diabos eu não larguei mesmo? Alguns motivos, em ordem crescente de importância:

  1. Sempre quis escrever um livro.
  2. Eu não queria perder o dinheiro. Se bem que esse motivo ficou mais forte quando a data se aproximava – deve ser porque a coisa toda foi ficando mais real.
  3. A publicação teria um papel importante como catapulta para os planos do Estrategistas para o biênio 2013/2014.
  4. A obra realmente teria um impacto positivo na vida das pessoas. Eu acreditava no que estava escrevendo.
  5. Eu não queria decepcionar as pessoas que estavam acompanhando o projeto.

Ao contrário do que eu esperava, não foi o dinheiro mais importante motivador; foram as pessoas.

Enquanto eu escrevia e queria largar, vários cenários passavam pela minha cabeça: como seria perder o dinheiro, não ter o livro publicado, etc etc. O pensamento que mais me assustava era: “tem bastante gente acompanhando esse desafio; se eu falhar, será que isso vai desmotivar algumas dessas pessoas a se desafiarem também? Imagina só, aquele cara do site que fez o desafio, perdeu. Que efeito negativo isso teria no subconsciente de quem me acompanha?”.

Claro, eu subestimei a minha importância na vida das pessoas. Entretanto, eu não queria deixar que nem um leitor ficasse desencorajado a ser ousado no futuro por uma falha de algo que estava ao meu alcance. Porque veja, falhar é normal e aceitável. Perder quando você deu tudo que tinha é algo digno. Porém, eu não queria deixar de bater a meta se ela estava a meu alcance; se tudo o que faltava era mais esforço e trabalho duro.

Inclusive, nesse meio tempo, escrevi um rant sobre a importância do esforço para o sucesso (o texto mais popular do site até hoje).

Semana final

Claro, rolou aquele pânico de última hora.

Com o tempo livre, comecei a focar 100%; baixei a cabeça e escrevi. Consegui bater a meta inicial coloquei para mim (20k palavras), ainda que não tenha concluído a versão publicável do livro. Terminei com o grito de guerra espartano, claro.

Um detalhe a ser notado: eu não me senti incrível-todo-poderoso-super-contente quando terminei. Um amigo perguntou qual era a sensação e eu respondi: “Dor na barriga. Estou com uma baita gastrite por stress agora”.

Isso aponta para algo que demanda atenção: quando desenhamos nosso desafios, precisamos desenvolver nossas recompensas! O normal é a responsabilidade de tudo estar por conta de outras pessoas: o chefe passa uma tarefa para a equipe que, se concluir, recebe os parabéns, um aumento, etc.

Em meu caso, não tinha nenhum fator externo para reinforçar a vitória. Eu precisei me dá um presente, comemorar a vitória para reforçar o mecanismo de recompensa por um trabalho duro bem feito. O que eu escolhi? Ficar uma semana sem escrever nada ;-)

Escrever x Publicar um livro

Há um espaço enorme entre essas duas atividades e reconheço que não sabia. Apenas o fato de eu sentar e escrever trouxe essa noção. Escrever um livro é uma atividade dura. Se colocar as palavras no papel já é dureza, o processo de revisão é gigantesco, não só por mim, mas também por terceiros. Por isso, há um gap entre o fim do desafio e o lançamento do livro.

Ao terminar essa versão incial, ficou claro como água onde eu preciso melhorar, desenvolver exemplos mais claros, pesquisar mais fontes… tudo isso eu nem imaginava e não teria descoberto se não tivesse me proposto a escrever. Ia ficar preso no achismo, tudo dentro da minha cabeça. Observar o lance feito na tua frente e notar onde você deve melhorar é muito mais fácil.

Eu faria tudo isso de novo?

Sim, com certeza. Se fosse para criar um novo desafio, desenharia ele um pouco diferente. Ao invés de criar uma aposta para um objetivo (escrever um livro), eu criaria uma aposta para um hábito (quantidade de palavras escritas por semana, por exemplo). Isso porque a força da aposta agiria num horizonte temporal menor; se eu não escrevesse X palavras naquela semana, já iria perder alguma coisa (o que aumenta a relevância do fator dinheiro). Ao contrário de colocar uma data lá longe e caminhar em direção a ela.

Em resumo, se fosse fazer novamente, eu focaria em apostar no processo e não no resultado.

Lições e Resumo

  1. Propor a si mesmo grandes desafios é a melhor maneira consciente de crescer na direção que você deseja
  2. Se for para fazê-los de modo público, que seja em forma de aposta.
  3. Aposte algo que vai te trazer complicações para pagar; se for dinheiro, melhor.
  4. Crie uma rede de motivos importantes para suportar seu esforço.
  5. Junte uma rede positiva de pessoas a sua volta para te ajudar a se manter na linha.
  6. SE ESFORCE. Sem suor, não há recompensa. Não importa o quão eficiente você seja (e tento ser o máximo possível), sem esforço não se sai da zona de conforto e não se cresce.
  7. Dinheiro é um bom motivador, principalmente a perda de dinheiro. Seres humanos são averssos a perdas; estudos mostram que prefirimos duas vezes mais não perder do que ganhar.
  8. Dinheiro não é o principal motivador; conheça seus objetivos e saiba o gatilho que te move. Seja ajudar alguma causa em que você acredita, seja melhorar a qualidade de vida de sua família… não importa. Know thyself (Conhece a ti mesmo)
  9. Há um grand cannyon de distância entre escrever um livro e publicá-lo.

 

1. Sorteie uma pessoa e estou em contato com ela (foi o Álvaro Marcus), falta resposta da parte dele. Darei acesso ao rascunho que concluí e ele ganhou uma cópia da versão final. Há duas pessoas no comentário com acesso a versão inicial (porque vão me ajudar na edição) que podem comprovar que eu terminei; por razões óbvias, não vou abrir o acesso.

2.Eu criei uma hashtag no twitter para compartilhar o progresso (#livroem15dias), mas na realidade eu não sei dizer se o livro inteiro foi escrito nesse número de dias. O que posso afirmar é que a metade final saiu em 3 dias ;-)

3. O site está no ar! – aprendizadoacelerado.com

 

  1. Paulo, só tenho a parabeniza-lo, graças ao seu desafio eu estou conseguindo atingir meu objetivo (emagrecer), além disso já tenho planos para outros tipos de desafios como esse, mas um por vez.

    Estou bastante ansioso pelo seu livro, certamente vou adquirí-lo, só o fato de eu ter feito a mesma coisa que você e já estar conseguindo os resultados que nunca havia conseguido antes é realmente surpreendente o/

    Obrigado por existir rapaz haha Vou ser o primeiro a comprar o livro!

    Abraços, Arlindo Armando

  2. Paulo, imagino a corrida contra o tempo que foi a produção do seu livro.
    Respondi o seu email, estou ansioso pela leitura. Só pelas lições enunciadas, já cria uma certa curiosidade sobre o conteúdo.

    Abraços.
    Álvaro

  3. Aeeeeeeeew!!!! Porra cara! Mandou muito! Se pudesse te tava um abraço agora de tanto orgulho que você me fez sentir. Um livro hein? Não é pouca merda não.

    Agora saindo do informal e sendo um pouco mais reservado, meus parabéns Paulo, colheu o que plantou, o fruto do trabalho duro. Hard work like the old school man!

    Cada vez me sinto melhor de te acompanhar e ver que você é acompanhado por uma galera que eu respeito e admiro, como o Beto (Alberto Brandão) e o Marco Gomes.

    Gente que como você gera resultado, e, talvez na busca de melhorar a sim mesmo acabou ecoando essa melhora pelo mundo. Eu por exemplo sou verdadeiramente infectado por essa onda boa de busca, ação e resultado.

    Afinal, colou meu nome no papelzinho do chapéu ou terei que pagar uma fortuna por esse livro? Quero ver essa primeira edição ainda quentinha saindo do forno.

    PS: Você não tinha nem os mil reais que apostou, tsc, tsc além de picareta é um duro… Agora estou pensando nos seus vídeos com o Edu, e acho que você aluga a parte de cima daquele beliche do fundo, trabalha de entregador de refrigerante preto (no fundo de um vídeo como um jabá descarado) e penhorou sua alma para o diabo pra conseguir comprar aquela câmera, que por sinal está mal utilizada, mais vídeos inteligentes por gentileza! A galera que te acompanha agradece.

    Abraço.

    1. HAHAHAH esse comentário arrancou boas risadas por aqui. Você descobriu tudo, tá espionando? ;-)

      >Eu por exemplo sou verdadeiramente infectado por essa onda boa de busca, ação e resultado.

      Excelente saber disso. Estava até conversando com Eduardo ontem como tem muito jovem brasileiro perdido, às vezes até bem intencionadas, mas ficam perdidos em iniciativas que não trazem RESULTADOS. Por mais que a filosofia seja bonitinha, só o resultado valida o trabalho que você deseja construir. Você parece caminhar com uma filosofia massa.

      Obrigado pelo apoio, a fase de comemoração passou; agora é mergulhar na edição.

      Abraço!

  4. lembrei hoje da tua aposta e vim no blog ver o que tinha saído. Fico muito feliz por mais essa conquista tua, Paulo.

    Os posts do estrategistas sempre me lembram das conversas que tive contigo e dudu.

    Abraço

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