Como Parar o Tempo e Preparar Sua Vida Para o Crescimento

Como Parar o Tempo e Preparar Sua Vida Para o Crescimento

Nem toda mudança é uma melhora, mas toda melhora é uma mudança, como afirma o dizer popular. Eu não vou negar: mudar é desconfortável. É assustador.

Quando você se encontra em uma situação de mudança, na qual você não sabe ao certo o que vai acontecer, aquilo… assusta. Não há mais referencial, não há mais certezas – apenas ajustes, reajustes e distanciamento da zona de conforto.

Contudo, há um outro lado do processo, o lado que eu prefiro focar: mudança é sinônimo de liberdade. Você só pode mudar aquilo que está sob sua esfera de controle, o que torna a mudança uma expressão de sua liberdade como ser humano.

É fantástico decidir ter uma dieta mais saudável e simplesmente poder escolher não comer alimentos ruins. Ou decidir entrar em forma e escolher ir à academia. Ou decidir ler mais. Ou decidir aprender uma outra língua.

O prazer de poder escolher sempre supera meu medo de mudar, por maior que este seja. É nele que eu decido focar sempre que fico nervoso por estar em uma situação desconfortável, que vai levar a meu crescimento.

“Torna-te quem tu és aprendendo que és.”
— Píndaro, poeta grego

A mudança é uma constante em nossas vidas, não dá para controlar. O que podemos controlar, até certo ponto, é a direção da mudança: podemos planejar o que queremos alcançar, quem queremos nos tornar, e agir naquela direção.

 

Toda e qualquer situação pode mudar

Forest, by Kim Daniel

“Se você não gosta de onde está, mude. Você não é uma árvore.”

– Jim Rohn

Quando estamos enfrentando alguma dificuldade, é muito fácil cairmos vítima de um efeito psicológico chamado desamparo aprendido.

O comum é acreditar que, se estamos em uma situação ruim, faremos o possível para sair dela. Mas, na realidade, se você não se sente no controle de seu destino, a tendência é desistir e aceitar qualquer situação em que você se encontra.

desamparo adquirido

Há inclusive alguns estudos bem elaborados a respeito. Em um deles, colocaram um cachorro acostumado a estar em uma caixa cujo chão dava choques ocasionais em um ambiente diferente, no qual ele tinha uma janela por onde escapar quando o choque ocorresse. Mas ele nunca escapava, apenas se encolhia esperando o sofrimento.

Já quando eles colocaram um cachorro que nunca tinha levado choque no mesmo ambiente, no primeiro sinal de sofrimento ele aproveitou para pular fora.

Gosto até de enxergar isso como uma metáfora: qualquer situação pode ser mudada e melhorada. Muitas vezes não conseguimos enxergar como, por estar sofrendo com aquilo por muito tempo, mas uma pessoa inteligente de fora olhando nosso problema pode nos ajudar a superá-lo.

 

O caso de Randy Pausch

Randy Pausch - Kaylin Bowers/Daily Progress, via Associated Press
Kaylin Bowers/Daily Progress, via Associated Press

Claro, nem tudo pode ser manipulado de modo externo. Se você está lidando contra um câncer terminal ou outros problemas irreversíveis do gênero, o desafio não pode ser alterado. Mas ainda lhe cabe mudar a forma de se relacionar com ele (um dos princípios de transformar desafios em oportunidades), o que vai fazer uma grande diferença.

Há até um exemplo que pode servir de referência. Um acadêmico famoso, Randy Pausch, foi convidado a palestrar em uma série de aulas conhecida como “A última palestra”.

Nesta série, foi pedido a acadêmicos famosos que pensassem bastante sobre o que realmente importava para eles e então dar uma “última palestra” hipotética, com “sabedoria que eles gostariam de passar ao mundo se soubessem que era a última chance deles”.

O irônico é que o professor Pausch recebeu o prognóstico que o câncer dele era terminal um mês antes de dar a palestra. Ele foi se apresentar falando o que acreditava ser mais importante, como se tivesse prestes a morrer, porque ele estava.

Ela foi um grande sucesso e foi transformada em um livro, que pode ajudar pessoas passando pelo mesmo desafio.

Felizmente, nem todos nós lidamos com um desafio tão grande quanto esse. Nossas maiores dificuldades costumam ser relacionamentos insatisfatórios, problemas profissionais, mal-estar físico e afins.

Não estou reinventando a roda

Marco Aurélio

“Se enxerguei tão longe é porque estou sob os ombros de gigantes”

— Newton

Quem acompanha o Estrategistas há algum tempo sabe que eu não leio, mas devoro livros. Aprendi pouco com experiência própria; a maioria foi com vida alheia, através dos livros.

Isso permitiu que até hoje já tenha vivido dezenas de vidas e tenha uma experiência de vida na casa dos milhares de anos.

Não vou dizer de quais livros tirei as ideias que seguem, até porque eu não sei. Depois que você passa dos primeiros 100 ou 200 livros, fica difícil manter rastro de onde vem o conhecimento que agora faz parte de você. E claro, se você estiver precisando de recomendações de leitura, posso sempre te ajudar.

O que posso compartilhar é uma lista breve dos autores mais importantes que falam direta e indiretamente sobre mudança. Focando naqueles que possuem não um, mas vários livros de alta qualidade.

Sêneca, de longe, está no topo da lista, tendo sido um ícone do estoicismo e tendo usado a filosofia para aliviar os sofrimentos da humanidade. Leia qualquer coisa que ele escreveu. Se sabe inglês, Letters from a stoic. Se não, A vida feliz, Sobre a brevidade da vida ou qualquer coletânea de seus pensamentos.

Robert Greene vem perto em segundo, com uma análise da natureza humana de um ponto de vista objetivo e calculista, em várias esferas. 48 leis do poder e Maestria, seguidos a 50 lei e 33 estratégias de guerra.

James Altucher é aquele que possui o estilo de escrita mais humano e divertido de todos. Compartilha experiência de vida de quem passou por muita maluquice desafiando os padrões de felicidade da sociedade. Escolha Você é o lugar para começar, seguindo por seu livro de histórias.

Nassim Taleb e as ideias do Antifrágil não podem ficar fora de lista alguma. Adicione ao conjunto Marco Aurélio, Sebastian Marshall, Carl Sagan e Eliezer Yudkowsky e você estará bem encaminhado.

Foi da soma de todas essas mentes e um pouco mais que eu retirei o conhecimento que estou a ponto de compartilhar.

Vamos começar?

 

Como parar o tempo e fazer controle de danos

Parar o tempo

No calor de uma batalha, quando o comandante percebia certa linha de ataque fraquejando em uma posição importante e que aquela tropa tinha condições de ir mais longe, ele gritava “segurem a linha!”.

De acordo com a visão do general, aquela tropa tinha condições de vencer a batalha, só estava passando por uma dificuldade pontual. Caso ele não visse solução para o problema, reagrupava as forças com o comando de bater em retirada.

Mas se ele gritava “segurem a linha”, significava que a tropa tinha condições, só estava passando por uma dificuldade naquele momento. Com um pouco de esforço extra de cada um, focando em não perder terreno, eles iriam triunfar.

Na vida, nós somos os generais e nossas próprias tropas. Chega determinado momento em que nossa inquietação gera uma vontade de mudarmos algo, mas ainda não sabemos o que e nem como.

Até descobrirmos o que queremos mudar, precisamos segurar a linha: viver no modo de contenção para que o trem não saia dos trilhos e experimentar um pouco até possuirmos a estratégia certa para avançar e ganhar a batalha.

Vemos ver agora um passo a passo que pode ajudar você a fazer isso.

 

1. Não está dando certo? Pare.

Sísifo

Sísifo foi um rei da mitologia grega punido por Zeus por ser mentiroso e traidor. Ele foi condenado a passar a eternidade empurrando uma rocha acima de uma colina e, sempre que chegasse próximo ao topo, ela rolaria colina abaixo, forçando-o a recomeçar o trabalho.

A verdade é que Einstein nunca disse que a definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente esperando resultados diferentes, mas é uma definição que faz sentido. Sísifo foi condenado àquela punição, mas para você , não há nenhuma lei impedindo que você mude de estratégia ou reconheça que não está funcionando.

O primeiro passo para qualquer mudança, então, é notar sua necessidade.

 

2. De onde vem o sofrimento?

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Onde dói?

Uma das “técnicas mentais” mais úteis que já aprendi é chamada compartimentalização. Basicamente, trata-se de utilizar pequenas caixas para envolver regiões diferentes de sua vida e tratá-las separadamente, sem criar problemas umas para as outras.

Claro, do ponto de vista ideal, você viveria como um só, sem compartimentos. Mas quando temos um problema, o ideal é não deixarmos aquilo se espalhar para outras áreas, o que pode reduzir nossas chances de resolver o problema inicial já que ele se espalha.

Assim, para aumentar nossas chances, o ideal é compartimentalizar nossos desafios, guardá-los separadamente em pequenas caixas, para que possamos nos manter funcionais nas outras áreas.

Quando levamos uma topada, por exemplo, sentimos dor no pé, não nos sentimos mal como um todo. A dor está ali, localizada, fácil de enxergar. Isso seria o equivalente a termos um problema no trabalho, digamos. É algo pontual, fácil de observar, embora seja inconveniente.

Para outras dores, no entanto, temos a tendência de espalhá-las. Se sentimos um mal estar gástrico, dizemos “não estou me sentindo bem”, ao invés de “meu estômago não está bem”. O equivalente seria estar insatisfeito com nossa escolha profissional e nos sentirmos mal na vida de uma maneira geral.

É justamente para barrar essa tendência de ampliar o problema que a compartimentalização serve. Identifique onde dói e trace um círculo ao redor daquilo. Contendo o problema, fica mais fácil de tratá-lo. Especialmente por causa do que veremos a seguir.

 

3. Pare de contar histórias

Man is talking to himself on the mirror

A mente humana possui vários modos “defeituosos” de funcionamento, alguns chamados vieses cognitivos e outros falácias de raciocínio.

Uma falácia, em especial, causa um dano considerável quando estamos falando de mudança e qualidade de vida. O nome dela é a falácia da narração.

“A falácia da narração faz referência a nossa habilidade limitada de olhar a uma sequência de fatos sem costurar uma explicação nela ou, de forma equivalente, forçar uma ligação lógica, uma seta de relação sobre tais fatos. Explicações juntam fatos. Elas os tornam mais fáceis de serem lembrados; elas ajudam a imprimir um sentido neles. Onde essa tendência pode causar erro é quando ela aumenta nossa impressão de compreensão.”

— Nassim Taleb, O Cisne Negro.

Colocando em termos mais simples: seres humanos são muito bons em contar histórias. Nosso cérebro é uma máquina poderosa para enxergar padrões ou criá-los, contanto que nos ajude a processar as informações de uma maneira mais fácil.

Na realidade, esse é o princípio por trás de técnicas de aprendizado focadas em melhoria de memória: criamos uma “história” por trás de informações sem conexão entre si de modo que seja mais fácil lembrá-las.

O problema surge quando fazemos isso de modo inconsciente e em nosso detrimento, o que é bem comum de acontecer quando estamos passando por situações difíceis.

Por exemplo, se você tem sentido uma falta de realização profissional e, de repente, seu companheiro(a) o deixa, seu cérebro começa a criar histórias entre duas coisas completamente não-relacionadas e você passa a acreditar que seu namorado(a) deixou você porque você é um fracasso e nunca vai conseguir nada na vida.

O ponto é que não sabemos a real razão por ele(a) ter partido; pode não ter sido nada relacionado com você.

Automaticamente criamos histórias para tentar processar os fatos e elas costumam fazer mal porque passam uma falsa sensação de entendimento da situação. Paramos de enxergar o mundo objetivamente e passamos a usar essas lentes distorcidas, normalmente sendo injustos com nós mesmos.

Por isso minha sugestão anterior foi de desenhar uma linha em torno da sua situação-problema (que pode ser mais de uma) para evitar que ela se “espalhe” e afete áreas de sua vida que poderiam estar rodando de modo saudável.

 

4. Procure ajuda de qualidade

“Quando o aluno está pronto, o mestre aparece”. Isso é pura porcaria. Ninguém vai chegar até você para ajudar se quase ninguém, nem você mesmo até há pouco tempo, sabia do problema. Você precisa ir atrás.

Quando insatisfeitos em busca de uma mudança, é natural retrair, querer lidar com problema por conta própria. Raramente isso funciona como desejamos.

Já conversamos aqui sobre criar seu conselho de guerra; o que sugiro agora, no entanto, é algo mais específico.

Você já tem ideia de onde dói. Talvez esteja incomodado com suas finanças, ou com sua carreira; talvez seja seu relacionamento ou sua saúde física. Não importa: você identificou e traçou o círculo em volta do que quer mudar.

Agora, seria apenas uma questão de ir atrás de ajuda especializada, mas não é tão simples assim. Como você vai saber em que opinião confiar? Por títulos, por popularidade? O que nos leva ao questionamento de como identificar charlatães.

Minha recomendação sobre o assunto é simples: para se proteger de charlatães é preciso adquirir as habilidades certas de pensamento que ajudem você a processar as informações que lê. Nessa esfera, “O mundo assombrado pelos demônios” do Carl Sagan e “Antifrágil’, do Nassim Taleb vão encaminhar bem seu desenvolvimento.

Contudo, não precisa se limitar a livros. Você pode buscar um profissional adequado a seu problema, seja um terapeuta, a combinação nutricionista/personal trainer ou um consultor financeiro. A ideia é colocar outras pessoas à bordo do barco tão cedo quanto possível.

 

5. Migre para o modo de manutenção

Modo manutenção

A vida de qualquer pessoa possui várias facetas: profissional, pessoal, amorosa, física, etc. Não é possível manter crescimento constante em cada uma dessas frentes, por isso que o consenso geral é garantir que você avance em pelo menos uma delas enquanto coloca as outras no “autopiloto”.

O princípio que vamos aplicar é o mesmo. Mudanças são processos que podem levar tempo, ainda que não a mudança em si, mas sua decisão em termos de em qual direção mudar. Por isso, o ideal é colocar a vida em autopiloto enquanto você lida com a fonte de insatisfação.

Seria similar a “parar o tempo”, fazer com que todas as outras áreas da vida funcionem de um modo que não demande sua atenção, para que você possa focar no seu crescimento.

Alguns exemplos:

  • Você descobre que está insatisfeito profissionalmente. Começa a juntar dinheiro para pedir demissão e gastar um período sabático de alguns meses a fim de descobrir o que quer fazer na vida. Ou diminui a carga diária de trabalho para poder explorar outras atividades.
  • Ou o problema é com a saúde. Você então coloca a faculdade “em pausa”, fazendo o mínimo esforço para passar, enquanto começa a visitar médicos para checar a saúde e começar a prática de atividades físicas.

Daí em diante. O principal insight por trás do modo de manutenção é que não é preciso estar crescendo sempre em todas as áreas da vida; é ok atingir um patamar estável em algumas delas enquanto o foco vai a outras.

Crescer por crescer é a mentalidade de um câncer, não de um ser humano saudável.

 

De agora em adiante

Mudar é um processo difícil, mas é uma expressão de sua liberdade como ser humano.

Ao encontrar um problema na vida, a maioria das pessoas, que não está acostumada a viver sob um treinamento, sucumbe à negatividade e cai numa espiral negativa; mas não precisa ser assim.

É importante identificar a origem e conter o problema o quanto antes. A seguir, buscar pessoas qualificadas para lhe ajudarem naquele ponto, além de transicionar as outras áreas da vida para o modo de “espera”.

É isso, até a próxima!

 

  1. Excelente hoje acordei com essa insatisfação com a vida e recebi este email, posso até não ser um aluno que esta pronto mas tenho certeza que o mestre apareceu. Valeu Paulo muito ancioso pelos próximos textos.

  2. Os pontos que mais se destacaram pra mim e deram aquele empurrão (coisa que tava precisando ler e internalizar): O processo de mudança é difícil, mas é a expressão da minha liberdade, e que é OK deixar algumas áreas em “modo manutenção” e ter somente resultados estáveis nelas em vez de querer ter EXC em todas as áreas ao mesmo tempo.

    Obrigada pelo texto, Paulo. E já estou ansiosa pelo próximo, que acredito tem muito a ver com o que muitas vezes me questiono… “qual a minha real vocação?”

  3. Muito bom Paulo!
    Mais um post de grande valor para aqueles que querem mudanças duradouras. Recordei o quão importante é a leitura e o fato de que existem grandes personalidades da nossa história que podem nos inspirar a ter uma vida de excelência. Abraço!

  4. Eu achei muito interessante esse modo manutenção, pois eu percebi que queria melhorar cada vez mais rápido nos meus estudos e no meu treinamento físico, e isso me tirava uma grande energia mental, quando estava indo bem em um falhava no outro, quando digo falhar, significa que não conseguia bater a meta ou meu treino estourava o tempo limite, ainda às vezes desistia de algumas partes importantes como treino de flexibilidade. Agora com essas ideias sei como vou poder administrar melhor os meus esforços mentais.

    1. Exato, cara. Esquecemos que não dá para focar no crescimento de mais deu ma área ao mesmo tempo, simplesmente o cérebro não tem “potência” cognitiva. É escolher uma e manter o resto “em manutenção”.

  5. Fantástico conhecimento! Você não tem noção da lucidez que
    isso me trouxe!

    Entendi que deixar um problema se espalhar para todas as áreas
    e encontrar conexões amplia muito a magnitude do que esta ruim!

    Ponto em perspectiva, deixar um problema pontual afetar
    todas as áreas da vida tem sido meu erro, desde sempre. Corrigir isso
    certamente vai trazer uma mudança significativa pra minha vida!

    Não vai ser tão fácil, nem de uma hora pra outra, mas
    trabalharei para internalizar.

    Eu já li que você tem uma lista de princípios, é com ela que
    você internaliza aprendizados como esse? Você a lê periodicamente?

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